«A nossa sociedade ocidental contemporânea, a despeito do seu progresso material, intelectual e político, conduz cada vez menos à saúde mental, e tende a sabotar a segurança interior, a felicidade, a razão e a capacidade de amor no indivíduo; tende a transformá-lo num autómato que paga o seu fracasso humano com as doenças mentais cada vez mais frequentes e desespero oculto sob um frenesi pelo trabalho e pelo chamado prazer.
Muitos daqueles que são normais são-no, porque se encontram tão bem adaptados ao nosso modo de existência, porque as suas vozes humanas foram reduzidas ao silêncio tão cedo em suas vidas, que nem lutam, ou sofrem, ou exibem sintomas como o neurótico.
São normais, não no que pode chamar-se o sentido absoluto da palavra; são normais sómente em relação a uma sociedade profundamente anormal.
O seu perfeito ajustamento a esta sociedade anormal dá a medida da sua doença mental. Estes milhões de pessoas anormalmente normais que vivem sem ruído numa sociedade a que, se forem seres plenamente humanos, não deveriam estar adaptados, ainda acariciam «a ilusão da individualidade», mas de facto foram em larga medida des-individualizados. A sua conformidade está a evoluir para algo como a uniformidade. Mas, uniformidade e liberdade são incompatíveis. A uniformidade e a saúde mental são igualmente incompatíveis... O homem não está feito para ser um autómato, e se se transforma em autómato, a base da sua saúde mental está destruída.»