Sabia que todos os dias convive com milhões de exilados invisíveis?
Escolhe-se um ficheiro, prime-se Delete, e num ápice já foi apagado, juntando-se às centenas de milhares de milhões que são eliminados diariamente em computadores espalhados por todo o planeta. A tecla Delete, carrasco de serviço em qualquer sistema operativo, condena à morte todos e cada um dos infelizes ficheiros que lhe chegam às mãos, acompanhando-os na última caminhada até ao muro de fuzilamento. As armas estão apontadas, levanta-se o braço, não há escapatória possível... Ou haverá?
APAGA MAS NÃO ACABA
Um ficheiro informático é apenas um conjunto de dados digitais que o identificam como elemento que pode ser lido, modificado e processado por um computador. No entanto, sempre que se apaga um ficheiro, o computador não elimina o conteúdo propriamente dito - limita-se a dizer aos outros ficheiros que, quando precisarem, podem vir ocupar o espaço desse ficheiro. É como se um inquilino recebesse uma ordem de despejo mas pudesse ficar em casa em segredo até que os novos ocupantes abram a porta.
É esta a proposta que, no momento do fuzilamento, o carrasco Delete faz ao espantado ficheiro. "Não vou morrer?", pergunta incrédulo o condenado. Não, pois o seu futuro é a clandestinidade. Será exilado para o submundo digital, onde irá ocupar espaços vazios ou abandonados por outros ficheiros. Saltitando de esconderijo em esconderijo, pode vir a sobreviver durante muito tempo, pelo menos até à chegada do temível papão: o arrepiante "Formatar", que expurgará todos os espaços de uma só vez. E, mesmo nessa situação, o pequeno ficheiro ainda tem algumas hipóteses de escapar com vida.
O LEGADO DO SOBREVIVENTE
Este nosso ficheiro deve a sua sobrevivência a Gary Kildall, pioneiro da computação informática e autor do CP/M, um sistema operativo de 1974 que, sete anos mais tarde, viria a inspirar o MS-DOS. Foi a partir do MS-DOS que a função Undelete, baseada na estrutura de ficheiros idealizada por Kildall, se difundiu pela informática da década de 80. Quando um ficheiro era apagado no MS-DOS, perdia a sua referência, mas mantinha-se intacto, embora escondido. Se o seu espaço não fosse preenchido por outros ficheiros, o Undelete podia recuperá-lo. Nascia pois a segunda oportunidade que tantos utilizadores desejavam em caso de descuido catastrófico.
A Apple, contudo, quis ir mais longe. Que tal dar sempre essa segunda oportunidade às pessoas? O Caixote do Lixo da interface gráfica do Apple Lisa foi a resposta. Qualquer ficheiro que um utilizador arrastasse para o caixote só seria verdadeiramente apagado quando o aparelho fosse desligado - até lá, bastava tirá-lo do caixote para o recuperar. Outros computadores, como o Macintosh e o Commodore Amiga, deram seguimento a esta ideia, mas foi só com o lançamento mundial do Windows 95 que os utilizadores puderam deixar grandes quantidades de ficheiros no lixo durante o tempo que quisessem... e assim reflectir nos computadores o que faziam nas suas caves e garagens.
DURO DE ROER
A possibilidade de acumular ficheiros sem limites no caixote do lixo trouxe mais conveniência aos utilizadores, mas há quem pretenda exactamente o contrário. Num mundo em que informações sensíveis têm necessariamente de passar de computador em computador, é importantíssimo assegurar que os ficheiros são eliminados sem deixar rasto. Mas não é fácil. Nem esvaziar a reciclagem, nem formatar o disco e nem mesmo destruir todo o computador oferecem garantias absolutas. Por isso, se alguma vez perder um ficheiro importante, não entre no desespero que pode apreciar neste vídeo. Como vê, na informática, nada se perde, tudo se retoma.