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Partida às 21:00h


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Partida às 21:00h

 

Os ônibus intermunicipais nem sempre partem na hora que deveriam partir, pelo menos aqui onde moro.

Ainda mais pelo fato do ocorrido pela manhã daquela terça feira.

As linhas intermunicipais possuem horários diferenciados das linhas de ônibus do transporte coletivo urbano.

Normalmente naqueles dias de semana os ônibus saem em horários separados por intervalos de uma hora.

Mas naquela terça feira, devido a um problema mecânico o ônibus das 5 horas da manhã não havia partido como de costume.

Isso ocasionou um atraso em toda a frota.

 

Eu particularmente havia partido no ônibus das 8 horas da manhã, que saiu, em virtude do fato, às 8:45 h.

 

Aquela terça feira começava de modo incomum.

 

O dia foi longo.

Fim de tarde.

Começo de noite .

 

Por um instante, intui que deveria partir em um horário diferente tendo em vista o desajuste da tabela da empresa.ocasionado pelo incidente com o ônibus das 5 horas da manhã.

Porem, poderia estar errado e tudo poderia ter voltado ao normal,

De qualquer forma, deveria chegar mais cedo ao terminal rodoviário para pegar um local mais privilegiado para viajar, sentado talvez, ou, na pior das hipóteses, pegar o ônibus que poderia estar ainda em um horário irregular.

 

O carro sairia do terminal rodoviário às 21:30 como de costume, mas isso era uma incógnita para mim.

 

21:00 horas.

O ônibus estacionou.

Entrei.

O movimento estava relativamente baixo.

Achei estranho mas, vou saber ? Com aquela confusão toda de horário talvez eu é que estivesse em horário diferente.

Entrei,cansado sentei-me e sonolento fiquei a pensar no dia que havia acabado.

A cabeça dava umas pontadas de dor.

Há muito não sentia dor de cabeça.

_ Stress do dia _ pensei.

Entrou um sujeito que não pude ver bem a cara.

Sentou-se na cadeira à minha frente.

Ele vestia uma jaqueta de lã, em tons de vermelho, com detalhes na cor preta.

A luz de um poste, fora do terminal, ofuscava a minha visão quando direcionava o olhar pra o cidadão.

Desprezei tal intenção.

Concentrei-me novamente em meus pensamentos.

 

O ônibus permanecia ligado como de costume, uma vez que o intervalo de tempo entre a estacionada e a partida era breve.

 

Aquela trepidação do motor causava ainda mais uma sonolência quase que incontrolável.

 

No meio do torpor da sonolência o rapaz que havia sentado em minha frente vira-se e pergunta alguma coisa que não entendi muito bem a não ser a última palavra:cemitério;

Esta palavra entendi perfeitamente e me fez mudar a atenção de modo repentino.

Disse-lhe:

_como,amigo? não entendi....!

_Vc sabe me dizer se este ônibus passa perto do cemitério santo antônio?

_sim, passa...quer dizer, passa de frente a um cemitério , mas não sei te dizer se é o cemitério santo antônio.

_é um cemitério de muro branco, baixo, com palmeiras na frente?_ perguntou.

_sim, é assim mesmo- respondi.

Fez-se um silêncio.

Entendi que havia satisfeito a sua dúvida.

Aquele sujeito me era familiar, talvez fosse passageiro da linha como eu.

Mas se fosse, então porque perguntaria?

Sei lá, talvez querendo conversar...

Mas era familiar aquele rosto.

Ele se vira de novo e diz:

_lá é um local bonito , vc não acha?

Aquela pergunta me tirou totalmente a concentração em que eu pensava.

Fiquei imaginando por frações de segundo se aquele indivíduo não estaria me confundindo com alguma pessoa, assim como eu poderia estar confundindo-o com alguém.

Antes que eu pudesse concluir o pensamento ele completou:

_cemitérios são locais de muita paz...

e fixou seus olhos em mim como se esperasse uma resposta afirmativa.

Franzi minha testa na intenção de demonstrar incerteza e um certo semblante de “talvez, quem sabe”; mas isso não o intimidou.

_São sim! Cemitérios são locais de muita paz...ao contrário das igrejas que são locais de muita confusão, pois, os mortos desajustados buscam seus refúgios em igrejas.

Ao completar a frase virou-se pra frente como se simplesmente a mensagem houvesse sido transmitida.

Balancei a cabeça com uma certa vontade de rir daquele comentário.

De onde havia saído aquela figura?

Que conversa era aquela?

O que eu tinha a ver com aquela conversa?.

Embora fosse um estranho, e embora o assunto fosse colocado de modo abrupto, ainda assim, era um assunto que me interessava.

Pessoas diferentes me atraem.

Pessoas com idéias diferentes me atraem mais ainda.

E em face da circunstância e da minha premonição matutina, supus que aquilo ainda daria muito “pano pra manga”.

Sincronicamente o cidadão virou-se pra traz novamente, no momento em que eu direcionava o olhar para a sua nuca.

E disse:

_centros espíritas são como cemitérios clandestinos.

Nesta altura eu já estava muito ligado naquele sujeito e percebi que ele havia notado que sua conversa me interessava.

Então lhe disse:

_olha,amigo.... _ parei por um instante para pensar bem no que ia dizer.

Eu tinha duas opções, ou concordar com aquela afirmação ou negá-la.

Apesar de saber, no meu intimo que ambas as respostas eram a mesma coisa, a justificativa de uma poderia ser mais breve que da outra. E naquele momento não sabia ao certo qual das duas coisas dizer. Qualquer coisa que eu dissesse naquele momento seria uma resposta. Mas, somente uma delas poderia ser concordante com a idéia daquele indivíduo simpático que estava ali na minha frente conversando sobre coisas tão estranhas ao momento ,mas tão fascinantes para a minha mente. De qualquer forma, independentemente da reposta que ele me devolvesse depois da minha afirmação, eu saberia como manter aquela conversa e arrancar daquele cidadão as informações que eu precisaria para adentrar no assunto de modo profundo e saber até onde ele poderia ir com aquela conversa. Pois tudo aquilo poderia ser somente um pretexto, e talvez ele mesmo não acreditasse naquilo tudo que falava.

Enquanto pensava, ele me disse, interrompendo:

_cemitérios clandestinos são buracos abertos na terra onde seres sem vida são depositados aquém do consentimento dos poderes responsáveis por administrar o manuseio de tudo aquilo que virará matéria em decomposição... em centros espíritas o mesmo acontece pois, há uma invasão na terra humana por um ente sem vida, apodrecido em si mesmo...

 

Eu realmente não esperava que alguém pudesse entrar de modo tão imediato em um nível tão profundo com um estranho.

Seu olhar fitou-me de modo seco ,olhos arregalados.

Percebi que ele estava confuso.

Mas percebia que mais do que isso,ele estava carregado de um espécie de mistificação, de supertição, pois havia em seu peito uma série de símbolos de diversas religiões , inclusive uma bíblia em miniatura.

Quando pensei em retrucá-lo, e dizer que ele deveria separar a análise de modo a buscar uma nova organização em seu modo de pensar, ele se levantou bruscamente e me disse:

_ caramba , esqueci uma coisa no balcão da lanchonete.... e saiu rápido..

_volte logo, quero te explicar uma coisa _ disse-lhe com certa altura_ o que chamou a atenção de quem estava cochilando dentro do ônibus.,

ele fez sinal de positivo,deu a volta no terminal correndo e sumiu de minha vista.

 

Olhei no relógio do celular: 21:05;

 

O ônibus não saía.

Relaxei no assento.

Fiquei rindo de tudo aquilo.

Como poderia ter ocorrido uma coisa daquelas?

Era muito engraçado.

Bocejei várias vezes.

Estava muito cansado.

Abaixei a cabeça forçando o pescoço pra baixo na intenção de relaxar a musculatura ,e diminuir a dor que aumentava...creio ter cochilado.

A trepidação do ônibus era leve e favorecia ainda mais o sono.

 

De repente uma pessoa me cutuca:

_amigo,amigo, acorde... vc não vai descer?

 

_HÃ? O QUE? não entendi.

Era o cobrador do ônibus.

_amigo, vc não vai descer? Já estamos indo pra garagem.

_como? Pra garagem? Mas este ônibus não vai pra Santa Efigênia?

Fiquei atordoado tonto de sono, com os olhos ardendo, e olhando ao redor.

_não ! Disse o cobrador- este carro vai pra garagem, o de santa Efigênia é outro.

E virou-se de costas para mim e saiu do ônibus,

_sim,claro,já vou descer, deixa só eu pegar minha mochila aqui...

fiquei perplexo.

_Sacanagem,puta que pariu!_ pensei...

Esta terça feira estava demais.

Depois de tudo aquilo pela manhã ainda havia a troca de ônibus.

Fiquei indignado,desci meio zonzo de sono,

_Caracas, dormi demais dentro do ônibus, ainda bem que o maluco do cobrador me acordou...e ainda sorri depois de pensar na possibilidade de ter acordado dentro da garagem da viação....

sentei-me no banco de madeira do terminal para esperar o ônibus que iria para Santa Efigênia.

Comecei a pensar em Santa Efigênia.

Santa Efigênia é uma cidade do interior.

É o que chamam de cidade dormitório.

Está próxima do centro urbano há uns 12,5 km, aproximadamente, e lá as coisas são mais baratas, o que favorece este aspecto (dela se transformar em uma cidade dormitório).

Porem, é um município independente.

Um pequeno povoado emancipado de 3.000 moradores, que passava pelo seu segundo ano de eleições municipais.

É uma cidadezinha “sui generis’ haja visto que possuía muita gente diferente para as poucas oportunidades oferecidas, a não ser estas citadas.

E lá eu morava há uns dois meses..

Gostava de lá.

 

No banco do terminal a demora era longa.

Pensei:

_caramba que merda é essa? Onde ta o motorista, o ônibus,os passageiros?.

Olhei para os lados,

Estava só.

Ninguém nas ruas.

Nem carros,

Nem motos.

Nada.

Nada .

Somente o vento frio do mês de julho e a noite sem lua e de céu nublado sem estrelas.

Foi então que me despertei!

Onde estavam todos.

Gritei:

_ô,motorista! Hei, cobrador!

Nada.

Só o assobio do vento gelado.

Não havia percebido anteriormente mas,o ônibus ainda estava no mesmo local,ligado.

_caralho, que merda é essa? O que ta acontecendo?

Andei pelo terminal e nada.

Nenhuma alma viva!

Nada, nem cães, nem mesmo as prostitutas que de costume trafegavam pelas ruas ao redor do terminal.

Nada.

Nem um bêbado,nem um engraxate,

Nada.

Nem camelôs...

 

Somente eu ,a solidão e o ônibus ligado.

 

Pensei:

_ tenho que ir embora, devem ser umas 23:00. minha esposa deve estar preocupada. Caramba, que merda. O que ta acontecendo comigo, que porra é essa?

Calma,calma,vc não está louco,claro que não, é tudo uma coincidência gigantesca. O pessoal deve estar tomando café por aí... as putas devem estar em motéis,os bêbados deitados pelas esquinas... não há de ser nada. O ônibus já vai sair... o motorista está no banheiro....

Esperei mais um tempo.

E nada.

Nada de nada.

Nada se movia.

Somente eu dentro do terminal.

 

Comecei a entrar em pânico.

Pelo menos uma coisa eu teria que fazer: avisar minha esposa,ou alguém de minha casa.

Peguei o celular pra olhar as horas, mas... estranho! aparentemente ele estava como diplay embaralhado. Teria caído?

O display estava meio riscado.

Como aquilo aconteceu?

Não me lembrava.

Não consegui ver as horas.

_foda-se! _ pensei_ vou ligar a cobrar.

Aproximei-me do orelhão. Telefone mudo.

Mudei de aparelho,mudo também.

Havia 24 telefones no lado em que eu estava.

Pulei para o último ,mudo.

Corri para o outro lado da plataforma de embarque, peguei o telefone:mudo.

_Caramba,porra,não acredito...que merda ta acontecendo aqui? Meu deus, que merda é essa?

Aquilo não era sonho, eu estava acordado, estava sentindo frio; estava com o coração disparado; minha boca tava seca e o medo começou a tomar conta de mim.

Falei pra mim mesmo:

_calma, respire fundo três vezes, calma, relaxe....relaxe...raciocine... relaxe....

então me acalmei parcialmente.

Independentemente do que estivesse acontecendo eu havia decidido que sairia dali e iria pra casa.

Isso era fato.

Dei um último grito chamando o motorista e nada.

Falei pra mim mesmo novamente:

_foda-se essa porra, vou embora neste ônibus... se der problema eu explico...vou pra casa !

Esta idéia começou a me dar uma certa sensação de liberdade.

Sempre gostei de ir pra casa.

O refúgio do guerreiro.

Local onde as energias são recompostas, onde o corpo descansa, onde a mente relaxa.

_Imagina, eu pilotando o ônibus, chegando em casa...hauhUAHuahuAHuha

Era engraçada a situação.

Na pior das hipóteses a policia ia me indiciar e depois tudo bem.

Eu não ia roubar o ônibus, apenas queria ir embora e aqueles filhos da puta da viação me deixaram sozinho no terminal.

_Tenho os meus direitos, caralho!

Entrei no ônibus.

Engatei a ré seguindo as instruções do painel.

E o ônibus começou a sair lentamente, mais parado do que lento.

Parecia não sair do local.

Subiu um cheiro de óleo queimado.

Coloquei em ponto morto e desci pra ver o que era.

_só me faltava essa,quando arrumo coragem o ônibus quebra....

Olhei debaixo do veículo .

Havia uma enorme poça de óleo.

Por isso o ônibus seria trocado, ele estava aparentemente quebrado.

Não acreditei.

Sentei no meio fio , apoiei a cabeça nas mãos e tive vontade de chorar de raiva.

Isso era mentira, não poderia ser verdade.

Aquilo tudo só podia ser um sonho,ou um pesadelo.

Mas não era.

Era real.

 

Acalmei-me de novo.

Pensei com toda a razão possível que eu poderia usar naquele momento.

Observei a situação e percebi que se eu manobrasse o ônibus com calma poderia tirá-lo da poça de óleo e pegar o asfalto seco.

Foi o que fiz.

Depois de umas duzentas manobras o carro pegou o asfalto e saiu lentamente.

No painel a luz do óleo marcava “estado crítico”.

_ se essa porra fundir o motor eu to fudido _ pensei...mas dane-se...eu vou pra casa.

Senti um grande alívio ao perceber que saía do terminal rodoviário.

Senti uma sensação de poder quase que pleno ao perceber que estava dirigindo o ônibus.

Eu estava indo pra casa.

 

Minha esposa devia estar preocupada...o celular quebrado... os telefones mudos...

Tudo estranho mas eu estava indo pra casa.

Ao sair do terminal vi uma placa:

CEMITERIO SANTO ANTÔNIO 250 KM.

Dei uma gargalhada.

Era uma brincadeira.

Alguém adulterou a placa.

O cemitério estava uns 8 ou 7 km apenas de onde eu estava.

Pensei ainda o quanto era estranho aquela placa.

Nunca havia notado que ele estivera ali, apesar de sempre passar por ali de ônibus.

Mas, agora que eu estava dirigindo e algumas coisas eram mais claras do que outras.

 

No meio do caminho pensei em uma outra coisa.

Lembrei-me do Paulinho.

Um amigo que tinha um pit-dog .

Uma espécie de lanchonete.

Era sagrado passar na lanchonete do Paulino toda noite para tomar uma cerveja em lata e comer um sanduba.

Mesmo que não estivesse com fome eu sentia a obrigação de comprar um sanduba do Paulinho.

A história de sua vida era um enredo de novela mexicana.

Ele batalhou muito pra sair da pobreza e adquirir uma posição mais privilegiada em relação à sua origem de favelado e muita miséria.

Paulinho era um cara de coração bom.

Sempre ajudou os amigos, mesmo com poucas condições.

Muita gente gostava dele e creio que além de mim ,vários comiam em sua lanchonete pelo fato de ser uma forma de ajudá-lo.

Essa idéia tomou conta de minha mente de forma tão profunda que me distrai do caminho.

Quando dei por minha consciência estava de frente à lanchonete.

Parei o ônibus já achando graça da possível reação que ele teria ao me ver saindo do ônibus.

Dei umas aceleradas na esperança dele voltar-se pra mim,e nada.

Parecia que ele tava preocupado com alguma coisa.

Em se tratando do Paulinho isso não era de se estranhar.

Ele vivia assumindo os problemas dos outros.

Contive-me com a brincadeira.

Procurei a chave para desligar o ônibus mas não achei.

Deixei-o ligado e desci.

_ e aí, Paulinho, mano velho.....?

Paulinho deu uma olhadinha rápida murmurou baixinho:

_ é... filósofo,meu amigo...

Continuou com seus afazeres.

Fiquei meio sem graça mas entendi.

Achei estranho mas não me ofendi.

Percebi que havia uma outra pessoa na lanchonete.

Ele estava de costas mas notei que era familiar aquela silhueta.

Como o cliente não se virou fiquei na minha.

_Paulinho, me vê uma bomba e uma skol geladinha, por favor....

Bomba era o nome do sanduíche que ele fazia, foi apelidado assim pela galera e o nome pegou...

Paulinho levantou-se, resmungo alguma coisa ,colocou fogo na chapa e volto ao seus afazeres.

Achei aquilo mais estranho ainda pois o cara era sempre brincalhão; sempre curtia com minha cara me chamando de filósofo dos perdidos, pelo fato de um dia ter debatido com ele a idéia de que ninguém nasce mau, mas torna-se mau....

Desse dia em diante ele passou a me chamar de filósofo dos perdidos, ou somente filósofo...

Uma espécie de ironia à idéia do anti-herói.

Como se eu fosse o defensor dos fracos e oprimidos das ruas da cidade.

Mas, naquele dia Paulinho estava estranhamente indiferente comigo.

 

O cliente que comia na mesa de frente me chamou a atenção.

Era muito familiar e me distrai tentando saber quem era, talvez um brother da área, ou algum amigo em comum...

De repente, quando menos percebo, Paulinho fecha a lanchonete.

Fiquei indignado com aquilo.

_ putzz meu,.o que eu fiz pra vc? Ta bolado comigo? _perguntei...

ele parou um instante,como se me olhasse sem entender o que eu falava.

Fez sinal de que havia esquecido algo dentro da lanchonete , voltou-se pra dentro do estabelecimento e eu fiquei de fora completamente sem entender nada.

 

_porra,meu, que está acontecendo?

_é,... hoje foi um dia terrível _ murmurou Paulinho,como se estivesse complementando o que eu dizia.

Não entendi se ele se referia ao que eu dizia ou se ele falava sozinho, mas como o cara não tava de boa comigo, preferi não entrar em detalhes.

Ele realmente não estava bem, aquilo não era uma atitude comum do Paulinho

Foi quando percebi que a pessoa que comia o sanduíche era o cara que havia conversado comigo dentro do ônibus...

_e aí, meu irmão????????????? Perguntei_ beleza?

_olá,amigo, como vai?_ ele me respondeu.

_vc ficou de voltar e não voltou _ completei; Percebendo a perplexidade do rapaz eu não dei continuidade.

Afinal de contas quem havia dormido dentro do ônibus era eu e não ele.

Pra não ficar em situação constrangedora mudei de assunto;

_ então?achou o cemitério?

_sim,sim, achei_ respondeu ele entusiasmado _ e vc,achou o que procurava?

_ eu? Não procuro nada?

_não?! Disse-me ele com ar de quem não acreditava no que eu dizia _ pra onde vc vai?

_vou para casa _ respondi rapidamente pra não dar muita conversa.

_ eu também _ respondeu ele _ vc vai de que modo?

_ vou de ônibus, ele está logo ali_ apontei para o ônibus que julgava estar mais perto do que realmente estava.

Assustei-me por um instante mas logo me recompus.

_engraçado, parei tão longe e me parecia estar tão perto....disse-lhe.

_sei como é, mas estou vendo o ônibus, não ta muito perto mas estou

vendo_ respondeu-me.

_bem se quiser pode vir comigo, te dou carona _ respondi dando uma grande risada pois na verdade o ônibus não era meu,como ele sabia e todo mundo que possivelmente nos observasse naquela hora.

Ele aceitou.

Despedi-me de Paulinho que nem respondeu ao gesto.

_amanhã converso com esse porra _ falei baixinho pra mim mesmo;

Colocamo-nos a andar.

Realmente o ônibus estava mais longe do que podia supor.

E mais impressionante ainda foi constatar que eu havia passado, em muito, o local ideal para parar; havia passado de frente o cemitério sem perceber.

_conheço um atalho,vamos por ele?

_atalho por dentro do cemitério?_ perguntei.

_sim,vc tem medo de cemitérios? Indagou meu amigo.

_não,de forma alguma, não tenho não.

_então vamos por aqui.

Entramos no cemitério pra cortar o caminho que era longo.

 

Subitamente uma sensação de estrema familiaridade tomou conta de mim.

Parecia que eu conhecia aquele local mais do que o comum.

Que estranha era aquela sensação.

Muito estranha e ao mesmo tempo tranqüilizadora.

O caminho foi tornando-se agradável.

Bonito.

Calmo.

Limpo e tenro.

Entramos por uma alameda ampla.

_fico por aqui _ disse-me meu amigo.

_onde? Aqui?no cemitério?

_sim,moro aqui, logo ali , olha.

Ele apontou para um conjunto de lápides bonitas , que se colocavam de frente a uma pequena casinha branca onde uma luz amarelada de vela refletia sua claridade pelos mármores frios do local.

Compreendi que ele deveria ser o caseiro, porteiro,ou coveiro.

Despedi-me dele que já estava de costas pra mim._

_ até mais,foi um prazer revê-lo.

Tentei interpelá-lo sobre aquela situação mas, como ele saiu rapidamente,supus ser inconveniente retardá-lo mais do que ele queria.

Continuei andando.

Senti o sono retornar.

Minha esposa.

Minha casa, aquele local bonito e pacífico, como dizia meu amigo....

Tudo muito estranho.

Sentia por aquele estranho uma grande simpatia, assim como sentia familiarizado com aquele cemitério mas, não compreendia o porque destas sensações.

A alameda encerrou-se diante de uma imensa lápide cinza de mármore.

Pensei que havia tomado o caminho errado,mas não era.

Aquele local era tão familiar,tão agradável,tão conhecido...

Eu já havia sonhado com aquilo, ou era um d’javu?

A lápide me atraia.

Aproximei-me.

O sono me atormentava.

Parecia estar embriagado.

Tonto.

Aproximei-me mais.

O sono aumentava.

Em um misto de profundo espanto e torpor vi escrito abaixo de um epitáfio, que era uma poesia antiga minha, meu nome, minha foto, e uma data....

Minha cabeça doeu.

Perdi a noção do que estava acontecendo.

 

 

Vagarosamente abro os olhos.

Havia oito pessoas em minha volta.

Dentre elas o motorista do ônibus, o cobrados, o fiscal do terminal e pessoas preocupadas:

_ o senhor está bem?_perguntava uma voz vinda de um lado que eu não poderia entender...

_ o senhor está bem?_ era um ambulante que se encontrava de cabeça pra baixo.

Na verdade eu estava deitado no chão, e ele em pé no rumo de minha cabeça, o que me deu a idéia de que ele estava de cabeça pra baixo.

Eu estava no chão.

Deitado, com a cabeça dolorida.

_ o que aconteceu? perguntei.

_ o senhor estava correndo pra pegar o ônibus ,escorregou no óleo da pista,caiu e bateu a cabeça no chão- respondeu o fiscal do terminal.

_já chamamos o corpo de bombeiros,tenha calma,não se mecha, a sua queda foi muito forte _ disse-me uma senhora que estava do meu lado.

Minha cabeça doía demais.

Desmaiei.

Acordei dentro da ambulância do bombeiro.

O cheiro de sangue era muito forte.

_o que aconteceu comigo,amigo? Perguntei;

_calma, senhor! Estamos te conduzindo para o hospital para que realizem os exames no senhor. Por enquanto não podemos dizer nada. Aparentemente foi só uma pancada; A sua coluna está bem, mas como houve desmaio é preciso que o senhor faça alguns exames.

O senhor tem alguém que gostaria que fosse avisado?

_sim. _ mostrei-lhe o celular e desmaiei de novo.

 

 

Um forte aroma de éter invadiu minha consciência.

Abri os olhos e estava deitado em uma maca dentro de uma enfermaria.

O médico se aproximou e disse:

_ o senhor está se sentindo bem?

_sim estou _ respondi_ minha cabeça dói muito e sua voz parece que está meio estranha, como se o senhor estivesse dentro de uma lata de tinta.... e sorri

_O senhor sofreu uma forte pancada na cabeça mas não foi nada sério.Está tudo em ordem agora...amanhã o senhor receberá alta,o que estais a sentir é proveniente da pancada_ e ele sorriu correspondendo à piada que eu havia feito;

_mas o que aconteceu?

_ nada de mais, uma pancada muito forte,mas não afetou sua coluna nem seu cérebro. Apenas uma contusão superficial; Já te disseram que vc tem a cabeça dura?

_sim... respondi sorrindo da possível ironia da pergunta

_ pois saiba que tem mesmo.

_ e o corte? _ perguntei.

_Não houve corte, somente uma luxação...._ respondeu o médico.

_mas eu senti o sangue...

_não era sangue, o senhor caiu em uma poça de óleo; Suas roupas estão cheias de óleo.

_não era sangue?

_ não – respondeu o médico _ amanhã o senhor pode ir pra casa está tudo em ordem; retorna somente daqui a duas semanas, para fazer check-up; Daremos um sedativo para aliviar a dor e esta noite; o senhor ficará aqui na enfermaria. Já avisamos sua família, amanhã eles estarão aqui.

 

Fiquei tranqüilo e dormi.

 

De manhã acordei em uma enfermaria meio abandonada.

O dia estava claro.

Haviam mais dois deitados em macas distantes.

Sentia-me melhor mas, com uma grande dor no pescoço.

A primeira coisa de que me lembrei foi de minha mulher.

_caramba_ pensei_ ela deve estar na maior preocupação.

 

Chamei a enfermeira.

Nada.

Chamei de novo.

Nada.

Levantei-me meio tonto,procurei minha roupa.

A camisa estava cheia de sangue mas a minha cabeça estava inteira.

Não havia cortes como disse o médico.

 

O hospital estava meio vazio.

Umas pessoas aqui outras ali,mas vazio.

Vesti-me rapidamente com pressa para sair e ligar pra minha esposa e tranqüiliza-la

Eis que surge no fim do corredor um monte de pessoas.

Eles vêm em polvorosa, ansiosos, e apressados.

Dentre eles estava o motorista e o fiscal do terminal.

O que eles estavam fazendo ali?

Viram-me e vieram até mim,na enfermaria ,enquanto eu me vestia.

_bom dia, como o senhor está?

_o que vcs estão fazendo aqui,porra?_ perguntei.

_ a nossa linha passa por aqui ,na frente do hospital; estamos indo de volta pro terminal; Se o senhor quiser podemos levá-lo pra que possa ir para sua casa..o senhor está bem?

_sim estou bem... _ respondi.

_ o senhor já recebeu alta? _ perguntou o fiscal....

_ sim já recebi.

_então vamos embora, deixaremos o senhor lá no terminal...

Olhei para os dois,e fiquei meio incrédulo.

O que estes caras queriam comigo?

Porque estariam ali?

Seria uma determinação da empresa?

Então porque não mandaram uma pessoa de relações publicas, ou comunicação social, sei lá...

Mas o tempo era curto.

Como minha esposa ainda não havia chegado pensei que poderia encontrá-la antes dela me ver ali.

No caminho de volta perguntei ao fiscal.

_ amigo o que de fato ocorreu ontem comigo?

_bem, o senhor escorregou, caiu de costas bateu a cabeça no chão e desmaiou; trouxemos o senhor para o hospital pois a linha do ônibus passa por aqui... hoje voltamos para ver como o senhor estava ....sorriu...

Olhei dentro dos olhos dele e percebi que havia alguma coisa errada. Estariam eles tentando me enganar? Estariam atrás do ônibus que supostamente eu teria roubado? Não, isso não fazia sentido... o roubo do ônibus era um sonho, o cemitério, tudo aquilo.. nada tinha acontecido....

_me digam uma coisa, e aquele sangue todo de onde veio?

_não havia sangue algum, senhor; foi somente uma pancada na cabeça- responderam.

 

Chegamos ao terminal.

Desci do ônibus.

O terminal estava do mesmo jeito.

Fui até o local do acidente. E lá estava uma imensa e densa mancha de sangue.

Na hora me lembrei que fui levado de ambulância para o hospital e não de ônibus.

Corri até o ponto do ônibus, no terminal pra encontrar o fiscal e o motorista,mas nada de achá-los.

_caralho, o que aconteceu? De quem é o sangue?

Realmente minha cabeça não estava cortada.

Mas lembrava-me perfeitamente do cheiro do sangue, de sua viscosidade ao secar-se. Da ardência do corte na cabeça....

Imediatamente lembrei-me de minha esposa.

Dirigi-me até o orelhão.

Os aparelhos funcionavam.

Liguei em casa, uma mulher atendeu e me disse que a minha esposa havia ido ao hospital me ver.

Quem era aquela mulher ao telefone?

Não tínhamos empregada !

Mas ela deve ter solicitado a alguém para ficar em casa enquanto ia me ver no hospital.

_ Puta merda, que burrice ! que burrice que fiz. Vou voltar para o hospital.

 

Entrei no ônibus que saia.

 

Na verdade o terminal rodoviário era muito perto do hospital onde eu havia sido atendido.

Acabara de entrar e o ônibus e já encostava de frente do hospital.

 

Desci rápido.

 

Dirigi-me imediatamente para a enfermaria.

 

Antes de entrar vi minha esposa sentada na cadeira com a cabeça sobre a cama chorando muito .

Não seria conveniente eu chegar subitamente nela e dizer que estava tudo bem.

Embora isso fosse o mais sensato, me parecia tão errado que me senti impulsionado a não me aproximar.

Aquela agonia tomou conta de mim.

 

Ninguém passava por ali, nem médico nem enfermeira

 

Andei pelos corredores.

E em um deles encontrei um jovem médico que passava apressadamente .

Abordei-o, contei brevemente o que havia ocorrido e solicitei que ele avisasse minha esposa sobre o meu estado de saúde, para que ela se acalmasse, para que assim eu pudesse me aproximar dela.

Ele me disse:

_ pode ficar tranqüilo meu amigo. Ela já foi avisada de seu estado de saúde; mas o senhor não deveria ficar aqui. Siga por esta porta e entre na terceira à esquerda. Aguarde lá até que um médico o libere, ok? _e saiu apressadamente e pelo corredor.

 

 

 

Fiz o que ele pediu,

Entrei em, um quarto grande e branco onde havia outra pessoa com a cabeça enfaixada deitada em uma maca.

Aparentemente o caso dela era pior do que o meu pois estava com a cabeça enfaixada.

Esperei lá por muito tempo.

De vez enquando entravam médicos e isso me deixava constrangido.

Parecia que eu estava no local errado, mas fazer o que?

Hospital público é foda!

Esperei.

Entraram oito médicos e examinaram o tal paciente... E eu lá esperando.

Quando eles saíram sem dar a mínima pra mim, saí atrás deles, mas o médico que havia me pedido para ficar lá, me interceptou na porta fazendo sinal para que eu ficasse e não saísse.

Antes que eu dissesse algo ele saiu andando rápido pelo corredor atrás dos demais médicos.

Sentei-me de novo.

Espera sem fim.

Comecei a observar meu amigo que estava ali na maca.

_ Coitado _ pensei _ esse ta mauzão...

Olhei atentamente seu corpo deitado.

Senti-me estranho, ainda mais pelo fato de poder imaginar que o mesmo poderia ter acontecido comigo.

Fiquei penalizado com aquela pessoa.

Subitamente lembrei-me de um fato ocorrido em minha infância.

Quando era criança, uns dez onze anos, tinha uma turma de colegas que sempre se aventurava em brincadeiras que se pareciam com expedições.

Éramos uns doze meninos.

Havia dois que nunca concordavam caso as brincadeiras propostas viesse do outro.

Sempre havia discussões.

Certa vez as discussões viraram briga.

Depois de apaziguarmos o ânimo dos dois brigões, um outro colega, o bocão, subiu sobre o muro da casa em que nos encontrávamos e deu um grito:

_ gente olha aqui, um trieiro de preá.

Na ocasião um senhor que fazia limpeza de terrenos para a vizinhança havia aprisionado um preá pra nos mostrar o animalzinho.

Depois de nos mostrar ele soltou o preá dizendo que nunca deveríamos matar os animais porque eles sentiam dores, tinham família, e contava um monte de histórias de pessoas que eram assombradas pelo resto da vida por causa de maldades que faziam com animais indefesos.

Obviamente nós não tínhamos a inocência que ele julgava mas escutávamos as histórias que eram muito bem contadas.

Como sabíamos da existência dos animaizinhos, aquela descoberta do amigo bocão era tudo o que precisávamos para mudar o foco do momento.

Todos subiram no muro.

Eu calçava meu chinelo.

Dei impulso pra subir no muro, segurei na parte de cima do muro, mas o tijolo soltou-se e caí de costas.

Bati a cabeça na quina da uma mureta que era azulejada.

Resultado : um corte.

Na ocasião levei alguns pontos na cabeça mas foi apenas uma corte superficial.

Meus amigos ficaram consternados pois, não havia coisa alguma no terreno ao lado.

O Bocão estava apenas tentando desviar a atenção de todos para que a discussão e a briga acabassem.

Os brigões se arrependeram pois, disseram que tudo aquilo somente acontecera por causa da briga.

Coisas de criança.

Mas depois deste incidente não me lembro mais de brigas dentro da turma;

 

Porque eu me lembrava daquilo, naquele momento, olhando para um estranho enfaixado em uma maca?

Não soube explicar...

Mas senti uma certa dose de compaixão.

 

Surgiu uma idéia repentina.

Será que se eu orasse por aquela pessoa isso poderia ajudá-la?

Como não entrava ninguém ha tempos dentro do quarto, pus-me a concentrar-me na pessoa deitada ali, com as mãos postas sobre sua cabeça.

Senti meu corpo esfriar-se.

Uma grande atração magnética me puxava para perto daquela pessoa.

Parecia que estava entrando em um redemoinho

O que era aquilo?

Era intenso.

Inevitável.

Sim, inevitável, impossível de reagir.

Sim.

Mas não poderia ser.

Não.

 

Como poderia ser ?

 

Reconheci aqueles braços.

Aquelas formas.

O rosto, mesmo tampado, mas com formas definidas.

Na cabeceira da cama, meu celular e minha blusa de lã vermelha com detalhes de preto, que ganhara de presente do dia dos namorados, de minha esposa, repleta de sangue seco, dentro de uma sacola de hospital , lacrada como uma peça que vai para o lixo hospitalar.

 

Aquele corpo era eu.

Aquilo era meu corpo.

Debilitado. Estragado.

A cabeça dilacerada.

Que merda era aquilo?

Eu semimorto na cama e ao mesmo tempo de pé ao meu lado.

 

Minha cabeça doeu.

Intensamente.

Uma forte dor aguda percorria meu cérebro.

Tudo latejava.

Senti vontade de vomitar.

Uma forte repulsão dentro de mim.

Minha mente rodava como redemoinho, rápido, como se entrasse por um funil estreito e abafado.

Perdi a consciência.

 

Então sonhei.

Andava por um grande salão.

Não haviam paredes embora ele fosse fechado.

Não havia teto embora não se pudesse ver o céu.

Uma música estranha soava de longe, aparentemente saída de dentro de mim.

O médico que me encaminhou pra sala da uti apareceu.

Pegou-me pelo braço , apontou para o lado esquerdo em relação a mim;

Surgiu uma brilho de luz intenso.

O brilho apagou-se.

Surgiu um enorme céu colorido.

E aos meus pés um enorme buraco.

Comecei a descer lentamente.

Aos poucos as luzes iam se apagando .

Comecei a sentir calor e depois frio.

Frio,

Muito frio.

Meu corpo começou a tremer de frio.

Tremia muito e tudo estava escuro.

A minha memória foi retornando lentamente.

Havia chegado no terminal rodoviário mais cedo que o ônibus.

Como este estava atrasado aproveitei a oportunidade e fui até a lanchonete do Paulinho.

Tomei, muito rápido, uma cerveja em lata pois, meu tempo era curto.

Retornei apressado ao terminal.

O ônibus já estava estacionado.

Ao sentar-me na cadeira percebi que meu celular havia ficado na lanchonete do Pulinho.

Perguntei ao motorista quanto tempo restava pra a saída do ônibus.

Ele me respondeu que sairia em 5 minutos.

Perguntei as horas e ele me respondeu que eram 21:00.

Desci correndo do ônibus e foi quando aconteceu o acidente.

Tentei atravessar correndo o pátio do terminal na intenção de atalhar o caminho.

Não sabia que acabara de acontecer um vazamento de óleo de um ônibus, escorreguei

Na poça de óleo e bati a cabeça violentamente na quina do meio fio, onde os carros estacionam.

Sofri um corte profundo na parte de traz da cabeça.

Era isso, lembrei-me de tudo.

 

Uma voz confortante me despertou.

Emocionei-me.

Era minha esposa de meu lado me chamando.

Abri os olhos.

Sobre o portal da enfermaria havia um relógio.

Marcava 21:00h

No criado mudo, ao lado da maca da enfermaria, haviam dois pedaços de papel.

A passagem do ônibus, amassada, que estava em meu bolso: Viação Alpha – Destino: Santo Antônio...

E um anúncio publicitário de um cemitério com uma foto belíssima de uma grande alameda ladeada por palmeiras e túmulos brancos, com a seguinte slogam: CEMITÉRIO SANTA

EFIGÊNIA – “A PAZ QUE TODA ALMA PRECISA !”

 

Seria aquilo de novo um sonho?

Somente saberei quando deixar de sê-lo.

 

 

 

==================================

 

 

 

É um excerto de um livro que um amigo meu brasileiro está a escrever

 

:malvado:

Does the set of all those sets that do not contain themselves contain itself?

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É um excerto de um livro que um amigo meu brasileiro está a escrever

Um excerto? Mais parece o livro inteiro. :P

"Só os que procuram o absurdo atingem o impossível."

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Ele afirma ser apenas um excerto, mas tou bastante curioso em relação ao resto da história!

 

tá giro, por vezes faz parecer a moca de um ácido estragado

 

é curioso que ao ler o texto senti-me meio estranho, lol...apalpei-me e perguntei aos colegas de trabalho se me estavam a ver... (só naquela...) <_< :wacko:

Does the set of all those sets that do not contain themselves contain itself?

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tá giro, por vezes faz parecer a moca de um ácido estragado

 

é curioso que ao ler o texto senti-me meio estranho, lol...

Eu não li todo (confesso) mas, a certa altura, também tive uma sensação esquisita. :wacko:

Se não houver frutos, valeu pela beleza das flores. Se não houver flores, valeu pela sombra das folhas. Se não houver sombra, valeu pela intenção da semente.

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a ti nao sei white dove, mas a mim foi do carrascão que me rodaram na hora do coffee break

Does the set of all those sets that do not contain themselves contain itself?

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Ah, tens razão.

Realmente foi quando cheguei do almoço... está tudo explicado. :stoned:

Se não houver frutos, valeu pela beleza das flores. Se não houver flores, valeu pela sombra das folhas. Se não houver sombra, valeu pela intenção da semente.

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Gostei. Li tudo. Depois não dá para ter acesso ao livro todo? ^_^

"Vive tudo o que puderes; é um erro não o fazeres. Não interessa tanto o que faças em particular, desde que tenhas a tua vida. Se não a tiveste, então o que tiveste? ... O que se perdeu, perdido está, podes ter a certeza... A altura certa é qualquer altura que tenhas a sorte de ainda ter... Vive!"

 

Henry James

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Muito fixe, curti muito a cadência da escrita e o ritmo descritivo, avisa quando o livro for editado, pois este excerto consiguio absorver-me durante estes minutos em que o li.....

Serpente Harmónica Vermelha

 

http://samukay.deviantart.com/gallery/

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nao estas por acaso a acreditar que eles leram aquilo pois nao ???

 

... bem me pareceu

Por acaso curto ler, principalmente quando a historia consegue agarrar, não sou gajo de ler muito por perguiça, mas quando gosto do livro devoro em pouco tempo.... ;)

Serpente Harmónica Vermelha

 

http://samukay.deviantart.com/gallery/

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nao estas por acaso a acreditar que eles leram aquilo pois nao ???

 

... bem me pareceu

não gostas de lêr???

 

nem sabes o que perdes... ou então ainda não descobris-te o teu tipo de livro.

quem inventou a distância não sabia o que era a saudade

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O primeiro livro sem ser bd, que me despertou mais para a leitura foi "o Princepezinho", que adorei e que de vez em quando releio, pois com o passar dos anos é muito engraçado a interpretação que faço dele, é como se estivesse sempre a ler uma nova história, até a agora tenho dado intervalos de cerca de 5 a 6 anos, e divirto-me bastante cada vez que o leio, muito aconselhavél a quem não gosta de ler.

Serpente Harmónica Vermelha

 

http://samukay.deviantart.com/gallery/

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Tive a plena sensação que estava num dos meus sonhos. À parte a morte, porqu e não costumo sohar que morri, esta história podia ser um sonho meu.

 

Carros que não pegam, avarias, telemóveis e telefones desligados ou avariados, espaços fechados mas sem paredes, viagens, senação de conhecer uma pessoa que não sei quem é, querer avisar alguém e nunca conseguir. Senti-me eu a sonhar...será que o teu amigo tb sonha assim?...coitado :wacko:

 

Mas gostei de ler ;)

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O teu amigo tem uma imaginação curiosa, particular e interessante.

Gostei! Digno de um argumento do grande Lynch.

A única certeza que tenho é não ter certezas.

"... e no fundo isto é tudo uma grande brincadeira!"

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  • 1 month later...
Ele afirma ser apenas um excerto, mas tou bastante curioso em relação ao resto da história!

 

tá giro, por vezes faz parecer a moca de um ácido estragado

 

é curioso que ao ler o texto senti-me meio estranho, lol...apalpei-me e perguntei aos colegas de trabalho se me estavam a ver... (só naquela...) <_< :wacko:

^_^:rolleyes: Se precisares....eu tb posso apalpar-te...p ver s tás bem vivinho... :P:oops::wub:;)

Se queres que a Vida te Sorria, que tal começares por sorrir...?!?

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Ele afirma ser apenas um excerto, mas tou bastante curioso em relação ao resto da história!

 

tá giro, por vezes faz parecer a moca de um ácido estragado

 

é curioso que ao ler o texto senti-me meio estranho, lol...apalpei-me e perguntei aos colegas de trabalho se me estavam a ver... (só naquela...)  <_<  :wacko:

^_^:rolleyes: Se precisares....eu tb posso apalpar-te...p ver s tás bem vivinho... :P:oops::wub:;)

^_^ Impressão minha ou aki há amor? :wub:;)

"Vive tudo o que puderes; é um erro não o fazeres. Não interessa tanto o que faças em particular, desde que tenhas a tua vida. Se não a tiveste, então o que tiveste? ... O que se perdeu, perdido está, podes ter a certeza... A altura certa é qualquer altura que tenhas a sorte de ainda ter... Vive!"

 

Henry James

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gostei bastante do exerto, avisa qd houver mais ;)

http://zallux.hi5.com

============================U

==========================N

=========================i

==========================T

=========================Y

"...ZION TRAIN IS BURNING STREETS..."

MENOG'S Web Page online now

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  • 2 months later...

Acho que não é indiscrição revelar a ultima parte do mail que ele me enviou e que mata a curiosidade a muitos :)

 

===

 

irmão, quanto ao livro,

infelizmente não posso te mostrar nada ainda porque

as coisas estão muito no começo.

o tempo tem que ser administrado entre outras coisas.

 

e nem sempre o tempo material disponivel favorece.

 

mas,

 

sairá.

 

e sei que as pessoas gostarão .

não pelo fato de ser eu quem escrevo, mas,

pelo fato de ser a descrição de fatos que eu percebi.

 

não são invenções puramente minhas.

 

minha responsabilidade é tão somente apresentar a descrição, de forma particular,

de coisas que ocorrem no universo, na terra, em casa, na família, etc...

 

sei que vc entende o que falo.

 

agradeço a sua disposição em responder ao e-mail.

valeu mano, vc é sangue bom.

 

=====

 

 

 

ouviram? o meu sange rula!! :nhak:

Does the set of all those sets that do not contain themselves contain itself?

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