Nem por acaso encontrei este texto!!
"O boom das pistas alternativas na cena open-air
Uma grande transformação está acontecendo na estrutura das raves e festivais de música eletrônica do Brasil: há algum tempo outras estéticas sonoras de BPMs mais baixos vêm ganhando espaço e respeito nas festas open-air que, antes, não abriam concessões para outros estilos eletrônicos. Cada vez mais vemos - e ouvimos - grandes artistas do techno, minimal, house ou electro em ação. E mais do que isso: até importantes e conhecidos artistas do psychedelic trance estão migrando para estas outras sonoridades: Gabe, Marcello VOR, Du Serena, Dahan, Sada e Teko, só para citar alguns nomes, têm projetos e/ou DJ sets paralelos. Uma boa parte do público também já vai às festas rave apenas em busca destes estilos, e a tendência é que a idéia ganhe mais e mais força.
Há até algum tempo atrás realmente não havia a necessidade para tal abertura no universo trance. Como é sabido, o gênero tem origens bem distintas e uma cultura psicodélica própria. Eram longas horas ou dias de imersão em uma só linha de som, rápida e atmosférica; a trilha sonora perfeita para uma intensa experiência, para entrar mesmo em transe, como o próprio nome auto-explica.
Quem estava lá, por volta de 1998, nas íntimas festas que fizeram a semente psicodélica brotar, são as pessoas que hoje produzem e fazem a festa acontecer. São os próprios donos das festas, DJs, VJs, decoradores, donos de lojas de roupas e alimentação, palestrantes, produtores; pessoas que naquela época se encantaram com a celebração a céu aberto e tiveram a vontade de contribuir positivamente para fazer esta cena crescer - e como cresceu! Ao longo destes curtos anos do desenvolvimento da cultura Trance no Brasil, muitos aspectos se transformaram no caminho: o público mudou, a intenção de celebrar, os locais, até a legislação mudou, menos… a música.
SOM ESTACIONADO?
O psy-trance parou no tempo, nos timbres e manobras, sequências e efeitos, e permaneceu como está há muitos anos - desde por volta de 98, quando um cru e original goa trance sofreu transformações na cadência, passou a ser chamado de psychedelic e sim, se padronizou. Responsabilidade dos produtores, que não reinventaram o estilo e caíram na fórmula que funciona. Para quem está na pista há alguns anos, é muito clara a percepção desta estagnação estética. O trance é uma trilha sonora que, para quem tem um entendimento sonoro mais amadurecido, tornou-se demasiado previsível e já não faz mais tanto sentido.
Assim, essa frente oldschool profundamente envolvida com o universo trance desde os primórdios da espécie, teve uma necessidade natural de sair em busca de novas sonoridades que causassem novas sensações, danças, insights… novas estéticas, para a história se reciclar e seguir forte.
O primeiro estilo a virar a curva para o outro lado foi o progressive trance. Alguns DJs pioneiros foram os responsáveis por esta primeira bifurcação no Brasil: Bob, Pedro Turra, Tati Sanches, Matera, Cláudio Brio, Flow & Zeo e Daniel Avellar foram os que, já entre 2001 e 2002, difundiram os sons com as batidas menos aceleradas, menos elementos e mais grooves. Desta matemática subtrativa - menos é mais - as variações foram se conectando, e em torno de 2005 outros estilos com a mesma pegada ganharam espaço definitivo nas festas e festivais open-air: techno, minimal, house e electro chegaram com intensidade nas pistas - que muitos ainda confundem erroneamente e chamam simplesmente de "progressivo".
Em suma, assim se deu a abertura e fusão de múltiplos estilos eletrônicos nas festas e festivais trance no Brasil. Esta transformação tornou a cena muito mais completa e interessante, por difundir possibilidades estéticas sonoras que vão muito além de qualquer definição. Da mesma forma que o trance entrou para os clubes, o som dos clubes ecoou para o meio do mato. A boa música não precisa de paradigmas e deve ser apreciada sem barreiras físicas ou mentais. Viva a atitude eclética!
LIMITAÇÃO DE ESPAÇOS
Mas claro que dividir o tempo da festa entre psy em um determinado horário e baixar os BPMs em outro gerou muita controvérsia. Por um lado, o público fiel ao psy não aceitou o momento da transição e abandonou a pista. Do outro, aqueles que apreciam música sem rótulos e buscam os outros ares eletrônicos.
Naturalmente a dualidade cresceu, e logo veio a solução para a harmonia entre estilos cada vez mais diferentes voltar a existir na mesma festa: criar um espaço para cada. Só assim, todos ficariam à vontade para apreciar o som que lhes caísse melhor num determinado humor e estado de espírito.
Atualmente, neste ano de 2008, vivemos o próximo grande passo na mutação das festas open-air. A idéia da fusão de estilos numa mesma festa sentiu a necessidade de crescer e… se emancipar.
Surge então a pista Alternativa, um espaço de celebração autônomo, um dancefloor paralelo que propõe a livre interação entre todos os estilos eletrônicos de BPMs mais baixos - essencialmente o quarteto techno, minimal, house e electro.
2007/08 foram anos determinantes para o desenvolvimento destas zonas autônomas temporárias. A festa Xxxperience já montou a pistinha algumas vezes, o Boom Festival de Portugal também, mas é o festival Universo Paralello que realmente quebrou os parâmetros e ergueu, pelo segundo ano consecutivo, uma pista Alternativa viva e sólida, que provou o desenvolvimento pleno da idéia.
Nesta última edição do Universo Paralello a pista Alternativa foi uma realização memorável, determinante para a solidificação do espaço como uma segunda pista real e independente, à altura da pista principal - ainda não em tamanho e calibre do sound system, mas certamente pela apreciação do público.
UNIVERSO PARALELLO
É importante contextualizar: não há no planeta um lugar tão belo e especial para uma festa desta dimensão. Nas areias brancas da paradisíaca praia de Pratigi, litoral sul da Bahia, o Universo Paralello toma a forma de uma verdadeira cidade auto-sustentável fora do tempo. Aproximadamente 10 mil pessoas, entre público e staff, vivem a experiência única de interagir neste cenário durante sete dias, sempre na virada do ano. O mar, o clima, gente de todo o mundo, coqueiros, estrelas, arte pura, música transcedental, atmosfera forte... liberdade total.
Naqueles dias intensos de ação no barco pirata foi clara a percepção coletiva: tomamos a consciência do quanto estamos unidos e engajados no conceito total da pista Alternativa. Todos trocavam idéias, impressões, discutiam com entusiasmo sobre a importância do que estava acontecendo ali, e a conclusão foi tirada com o entusiasmo: o universo paralelo do Festival foi a pista Alternativa. O espaço alcançou uma real autonomia no universo Trance.
É visível a evolução do festival, ano após ano: nesta edição viu-se uma estrutura como nunca antes, realmente ampla e impressionante. Nesta edição número 8 o UP tomou a vanguarda e mostrou um festival realmente total e eclético, com cinco ambientes de música que também firmaram a expansão sonora do festival: além da grande pista principal voltada a todas as vertentes do trance, um chill-out de beleza gritante com DJs e bandas dos vários estilos de downtempo (dub, trip-hop, nujazz, funk, IDM, experimental, entre muitos outros); o Palco Paralello para bandas de vários estilos não necessariamente eletrônicos (rock, jazz, MPB, música folclórica); a pista Goa, montada em meio a um pântano que recriou a atmosfera da cidade indiana onde tudo começou com o goa trance, e claro, o dancefloor alternativo.
A pista Alternativa é uma iniciativa que representa com força a frente oldschool da geração eletrônica nacional e ganha cada vez mais influência nas festas eletrônicas open-air; a atitude que daqui brotou já dá sinais de boa influência. Diversos festivais trance ao redor do globo também estão na iminência de hastear a bandeira pirata, como o importante Boom Festival, que acontecerá em agosto deste ano em Portugal
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