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Poesia


Avózinha.Susto
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Recommended Posts

Vamos deixar aqui as obras poéticas que mais gostamos. B)

 

 

Ricardo Reis

 

 

Deixemos, Lídia

 

 

 

 

 

 

Deixemos, Lídia, a ciência que não põe

 

Mais flores do que Flora pelos campos,

 

Nem dá de Apolo ao carro

 

Outro curso que Apolo.

 

 

 

 

 

Contemplação estéril e longínqua

 

Das coisas próximas, deixemos que ela

 

Olhe até não ver nada

 

Com seus cansados olhos.

 

 

 

 

 

Vê como Ceres é a mesma sempre

 

E como os louros campos intumesce

 

E os cala prás avenas

 

Dos agrados de Pã.

 

 

 

 

 

Vê como com seu jeito sempre antigo

 

Aprendido no orige azul dos deuses,

 

As ninfas não sossegam

 

Na sua dança eterna.

 

 

 

 

 

E como as heniadríades constantes

 

Murmuram pelos rumos das florestas

 

E atrasam o deus Pã.

 

Na atenção à sua flauta.

 

 

 

 

 

Não de outro modo mais divino ou menos

 

Deve aprazer-nos conduzir a vida,

 

Quer sob o ouro de Apolo

 

Ou a prata de Diana.

 

 

 

 

 

Quer troe Júpiter nos céus toldados.

 

Quer apedreje com as suas ondas

 

Netuno as planas praias

 

E os erguidos rochedos.

 

 

 

 

 

Do mesmo modo a vida é sempre a mesma.

 

Nós não vemos as Parcas acabarem-nos.

 

Por isso as esqueçamos

 

Como se não houvessem.

 

 

 

 

 

Colhendo flores ou ouvindo as fontes

 

A vida passa como se temêssemos.

 

Não nos vale pensarmos

 

No futuro sabido

 

 

 

 

 

Que aos nossos olhos tirará Apolo

 

E nos porá longe de Ceres e onde

 

Nenhum Pã cace à flauta

 

Nenhuma branca ninfa.

 

 

 

 

 

Só as horas serenas reservando

 

Por nossas, companheiros na malícia

 

De ir imitando os deuses

 

Até sentir-lhe a calma.

 

 

 

 

 

Venha depois com as suas cãs caídas

 

A velhice, que os deuses concederam

 

Que esta hora por ser sua

 

Não sofra de Saturno

 

Mas seja o templo onde sejamos deuses

 

Inda que apenas, Lídia, pra nós próprios

 

Nem precisam de crentes

 

Os que de si o foram.

 

 

 

 

:)

war2ji0.jpg

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Não havia espaço para uma das minhas obras poéticas preferidas... deixo apenas o título e acho que basta... vão entender! ;)

 

Os Lusíadas, Luis Vaz de Camões :splat:

I'm on a mission!

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"Fui ao mar,

apanhar mexilhões.

 

Veio uma onda,

molhou-me os tornozelos.

 

Estava maré baixa!"

 

Autor desconhecido mas bastante conhecedor da "Faina".

Um dia ia eu na floresta, e apareces tu! Resolvi dar-te uma prenda...

E que rica prenda!

 

In the 60's people took acid to make the world weird.

Now the world is weird and people take prozac to make it normal.

 

Vamos todos tomar o ácido às 23:59 e não se esqueçam dos toalhetes húmidos para limpar as mãos depois dos camarões.

 

Ignorando activamente: 9 users!

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Ok.. eu queria dizer POEMAS, não as obras na sua totalidade. hehehehehe sorry! :P

Ok, mas Os Lusiadas são um poema... só que é um bocadinho grande... só um bocadinho! ;)

I'm on a mission!

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  • 2 weeks later...

Ora aqui vai um dos que mais vezes leio e releio e lembro e relembro:

 

 

AOS AMIGOS

 

 

Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.

Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,

com os livros atrás a arder para toda a eternidade.

Não os chamo, e eles voltam-se profundamente

dentro do fogo.

– Temos um talento doloroso e obscuro.

Construímos um lugar de silêncio.

De paixão.

 

Herberto Helder

 

:wub:

"INTERVAL" . ELECTRONIC, CINEMATIC & ACUSTIC AMBIENT

 

http://soundcloud.com/m-ms/interval-origami-sound

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AOS AMIGOS

 

Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.

Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,

com os livros atrás a arder para toda a eternidade.

Não os chamo, e eles voltam-se profundamente

dentro do fogo.

– Temos um talento doloroso e obscuro.

Construímos um lugar de silêncio.

De paixão.

 

Herberto Helder

 

:wub:

:toosad: Um poema como este, hoje, só p chorar.... :sadd:

Nothing happens unless there is first a dREAM

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Quando sentes que sentes dor?

Quando choras? Quando cais?

Nada disso é dor, apenas algo sentido.

Dor é sentir e pensar, sem se poder fazer isso.

 

Olhar para o mar negro

Ver o sol a pôr-se

Sentir o vento gelado na tua cara

Falar para alguém que não ouve.

 

Ninguém sabe o que é dor

A não ser aquelas pessoas

Aqueles ninguém

Que olham, sentem, vêem e falam.

 

Quando sentes que sentes dor?

Talvez nunca, talvez sempre

Talvez morras sem a conhecer

Talvez vivas com ela presente.

DJ Ganeisha

 

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Raquel, gosto muito daquele texto do António Ramos Rosa

que puseste no "o que os outros dizem", espero que gostes deste:

 

Um gesto que procura

a origem de si próprio

como a respiração

do que não tem lugar dentro de si

 

Não procures tocar a estátua adormecida

na sua imobilidade indivisível

porque a palavra não é mais do que a passagem

e ela não toca senão o espaço que começa

como se a manhã fosse nascer em ti

 

A momentânea margem do impossível

é o horizonte de um olhar que se despoja

até não ser mais do que o movimento do caminho

em que se apagam as palavras

como palpebras no silêncio

 

A.R.R.

 

e esse ultimo é de quem?

 

<_<

"INTERVAL" . ELECTRONIC, CINEMATIC & ACUSTIC AMBIENT

 

http://soundcloud.com/m-ms/interval-origami-sound

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Xiii tantos...o homem é uma makina a escrever...

agora assim de repente..."A Intacta Ferida" donde está está este que transcrevi!

É da Relogio d'água.

 

escritacreativa?

hummm...

vou ver isso!

 

<_<

"INTERVAL" . ELECTRONIC, CINEMATIC & ACUSTIC AMBIENT

 

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Adorei Martim! Eu so tinha aquele que vi num site mas n tenho mais nenhum dele, por acaso não sabes o titulo de algum livro dele. Adorava ter um! :)

 

 

Este último é meu :oops: podes ver mais meus aki http://www.escritacriativa.com

 

;)

"os passos em volta", Herberto herlder, Ed. Assírio e Alvim

É muito bonito raquel, são contos, não é poesia. Mas vale bem a pena!

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Adorei Martim! Eu so tinha aquele que vi num site mas n tenho mais nenhum dele, por acaso não sabes o titulo de algum livro dele. Adorava ter um! :)

 

 

Este último é meu  :oops:  podes ver mais meus aki http://www.escritacriativa.com

 

;)

"os passos em volta", Herberto herlder, Ed. Assírio e Alvim

É muito bonito raquel, são contos, não é poesia. Mas vale bem a pena!

Ah, ya, tavas a falar do Alberto ramos Rosa! :unsure:

Tou ca gripe, a minha cabeça tá a 20%! :wacko:

Nothing happens unless there is first a dREAM

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hehehe Huanita :wacko: Helberto Helder já tenho um , mas acho que não é esse que indicaste ;) por isso também vou investigar esse. Que bom! Adoro que me digam nomes de livros para eu ir investigar! :rolleyes: Thanks***

DJ Ganeisha

 

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:wub:AMOR :wub:

 

Pediram-me para de Amor falar

Algo que a mim não se devia pedir

Mas mesmo assim vou tentar

Sabendo que é mais difícil falar que sentir

 

Pediram-me para de Amor falar

Como gostava agora de ser o Camões

Que tinha o dom de nos maravilhar

Com os desígnios dos nossos corações

 

Existem vários tipos de Amor

Oiço por vezes alguém dizer

Mas eu só quero sentir o calor

Daquele que me faz viver

 

Por vezes está aqui tão perto

Outras nem se lhe pode chegar

Mas dele quero estar coberto

Quando a luz da manhã chegar

 

Amor é fogo que arde sem se ver

Talvez o poeta tivesse razão

Mas até agora estou sem saber

Se queima mais a alma ou o coração

 

Já por muitos sítios andei

E algo te posso garantir

Em todo o lado encontrei

O sentimento do Amor a florir

 

É como ir á lua sem foguetão

Numa viagem alucinante e atribulada

Nunca sabendo como ficará o coração

Depois de uma aterragem forçada

 

É uma poção mágica com que me embriago

Muitas vezes contra o meu próprio querer

Basta simplesmente um pequeno trago

Para este coração forte começar a bater

 

Por vezes vamos por ele a passar

Outras vezes passa ele por nós

Mas por muito que o queiramos guardar

No fim ficaremos sempre sós

 

Mas nada disto me importa

Nada disto quero eu saber

Porque quando ele me bate á porta

De braços abertos o vou receber

 

 

Autor desconhecido

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Algo se priva de ser em cada coisa

para que essa coisa seja

e a palavra só vive se reserva

o que diz no desejo de dizer.

 

 

Antonio Ramos Rosa

" A vidA é umA festA"

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  • 4 weeks later...

Amigo

 

Mal nos conhecemos

Inaugurámos a palavra «amigo».

 

«Amigo» é um sorriso

De boca em boca,

Um olhar bem limpo,

Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,

Um coração pronto a pulsar

Na nossa mão!

 

«Amigo» (recordam-se, vocês aí,

Escrupulosos detritos?)

«Amigo» é o contrário de inimigo!

«Amigo» é o erro corrigido,

 

Não o erro perseguido, explorado,

É a verdade partilhada, praticada.

 

«Amigo» é a solidão derrotada!

 

«Amigo» é uma grande tarefa,

Um trabalho sem fim,

Um espaço útil, um tempo fértil,

«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!

 

Alexandre O’Neill, in No Reino da Dinamarc

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http://quantic-chill.com

"Our job as psychedelic thinkers is to do everything we can to nudge our culture into a more Gaian state of mind". Lawrence Hagerty

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  • 2 weeks later...

Mude

Edson Marques

 

 

 

 

Mas comece devagar,

porque a direção é mais importante

que a velocidade.

 

Sente-se em outra cadeira,

no outro lado da mesa.

Mais tarde, mude de mesa.

 

Quando sair,

procure andar pelo outro lado da rua.

Depois, mude de caminho,

ande por outras ruas,

calmamente,

observando com atenção

os lugares por onde

você passa.

 

Tome outros ônibus.

Mude por uns tempos o estilo das roupas.

Dê os teus sapatos velhos.

Procure andar descalço alguns dias.

 

Tire uma tarde inteira

para passear livremente na praia,

ou no parque,

e ouvir o canto dos passarinhos.

 

Veja o mundo de outras perspectivas.

Abra e feche as gavetas

e portas com a mão esquerda.

 

Durma no outro lado da cama...

depois, procure dormir em outras camas.

 

Assista a outros programas de tv,

compre outros jornais...

leia outros livros,

Viva outros romances.

 

Não faça do hábito um estilo de vida.

Ame a novidade.

Durma mais tarde.

Durma mais cedo.

 

Aprenda uma palavra nova por dia

numa outra língua.

Corrija a postura.

Coma um pouco menos,

escolha comidas diferentes,

novos temperos, novas cores,

novas delícias.

 

Tente o novo todo dia.

o novo lado,

o novo método,

o novo sabor,

o novo jeito,

o novo prazer,

o novo amor.

a nova vida.

 

Tente.

Busque novos amigos.

Tente novos amores.

Faça novas relações.

 

Almoce em outros locais,

vá a outros restaurantes,

tome outro tipo de bebida

compre pão em outra padaria.

Almoce mais cedo,

jante mais tarde ou vice-versa.

 

Escolha outro mercado...

outra marca de sabonete,

outro creme dental...

tome banho em novos horários.

 

Use canetas de outras cores.

Vá passear em outros lugares.

Ame muito,

cada vez mais,

de modos diferentes.

 

Troque de bolsa,

de carteira,

de malas,

troque de carro,

compre novos óculos,

escreva outras poesias.

 

Jogue os velhos relógios,

quebre delicadamente

esses horrorosos despertadores.

 

Abra conta em outro banco.

Vá a outros cinemas,

outros cabeleireiros,

outros teatros,

visite novos museus.

 

Mude.

Lembre-se de que a Vida é uma só.

E pense seriamente em arrumar um outro emprego,

uma nova ocupação,

um trabalho mais light,

mais prazeroso,

mais digno,

mais humano.

 

Se você não encontrar razões para ser livre,

invente-as.

Seja criativo.

 

E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,

longa, se possível sem destino.

 

Experimente coisas novas.

Troque novamente.

Mude, de novo.

Experimente outra vez.

 

Você certamente conhecerá coisas melhores

e coisas piores do que as já conhecidas,

mas não é isso o que importa.

O mais importante é a mudança,

o movimento,

o dinamismo,

a energia.

Só o que está morto não muda !

 

"Repito por pura alegria de viver:

a salvação é pelo risco,

sem o qual a vida não vale a pena"

(Clarice Lispector)

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  • 3 weeks later...

Micheliny Verunschk

 

Da rotina

 

 

Varrer o dia de ontem

que ainda resta pela casa,

o dia,

que persiste,

quase invisível,

pelo chão,

nos objetos,

sobre os móveis da sala.

varrer amanhã,

o pó de hoje.

varrer.

varrer hoje.

(e domingo

quebrar os dentes

o copo

e sua água de vidro ...

segunda,

não esquecer :

varrer todos os vestígios).

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  • 4 weeks later...

Quem morre?

Morre lentamente

Quem se transforma em escravo do hábito,

Repetindo todos os dias os mesmos trajectos,

Quem não muda de marca,

Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente

quem faz da televisão seu guru.

Morre lentamente

quem evita uma paixão,

quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções.

Morre lentamente

quem não vira a mesa quando está infeliz com os seu trabalho,

quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,

quem não se permite pelo menos uma vez na vida,

fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja,

quem não lê,

quem não ouve musica,

quem não encontra graça em si mesmo.

Evitemos a morte em doses suaves,

recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior

que o simples facto de respirar.

Somente a perseverança fará com que conquistemos

um estágio esplêndido de felicidade.

 

Pablo Neruda

DJ Ganeisha

 

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  • 4 weeks later...

ASTRONOMIA

Vou buscar uma das estrelas que caiu

do céu, esta noite. Ficou presa a um

ramo de árvore, mas só ela brilha,

único fruto luminoso do verão passado.

 

Ponho-a num frasco, para não se

oxidar; e vejo apagar-se, contra

o vidro, à medida que o dia se

aproxima, e o mundo desperta da noite.

 

Não se pode guardar uma estrela. O

seu lugar é no meio de constelações

e nuvens, onde o sonho a protege.

 

Por isso, tirei a estrela do frasco e

meti-a no poema, onde voltou a brilhar,

no meio de palavras, de versos, de imagens.

 

Nuno Júdice

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  • 3 weeks later...

Eugénio de Andrade

 

Já alguém sentiu a loucura

vestir de repente o nosso corpo?

Já.

E tomar a forma dos objectos?

Sim.

E acender relâmpagos no pensamento?

Também.

E às vezes parecer ser o fim?

Exactamente.

Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?

Tal e qual.

E depois mostrar-nos o que há-de vir

muito melhor do que está?

E dar-nos a cheirar uma cor

que nos faz seguir viagem

sem paragem

nem resignação?

E sentirmo-nos empurrados pelos rins

na aula de descer abismos

e fazer dos abismos descidas de recreio

e covas de encher novidade?

E de uns fazer gigantes

e de outros alienados?

E fazer frente ao impossível

atrevidamente

e ganhar-Ihe, e ganhar-Ihe

a ponto do impossível ficar possível?

E quando tudo parece perfeito

poder-se ir ainda mais além?

E isto de desencantar vidas

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POEMA SÉRIO

 

 

Quer seja curto ou comprido,

 

Quer seja fino ou mais grosso,

 

É um órgão muito querido,

 

Por não ter espinha, nem osso.

 

 

De incalculável valor,

 

Ninguém tem um a mais,

 

E desempenha no amor,

 

Um dos papéis principais.

 

 

Quando uma dama lhe toca,

 

Ei-lo a pular com fervor,

 

Se for um rapaz, estremece,

 

Se for velho, tem menos vigor.

 

O seu nome não é tão feio,

 

Pois tem sete letrinhas só,

 

tem um R e um A no meio,

 

Começa em C e acaba em O.

 

 

Nunca se encontra sozinho,

 

Vive sempre acompanhado,

 

Por outros dois orgãozinhos,

 

Bem junto de si, lado a lado.

 

 

O nome destes, porém,

 

Não gera confusões,

 

Tem sete letras também,

 

Tem L e acaba em ÕES.

 

Pra acabar com o embalo,

 

E com as más impressões,

 

Os órgãos de que eu falo...

 

São o coração e os pulmões!

 

Pensavas que era o quê?

 

Mente Poluída !!!

 

Vai rezar, vai !!!

"Atenção em vez de eficiencia, fluxo suave em vez de velocidade"

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  • 1 month later...

Há Dias

Há dias em que julgamos

que todo o lixo do mundo

nos cai em cima

depois ao chegarmos à varanda avistamos

as crianças correndo no molhe

enquanto cantam

não lhes sei o nome

uma ou outra parece-me comigo

quero eu dizer :

com o que fui

quando cheguei a ser luminosa

presença da graça

ou da alegria

um sorriso abre-se então

num verão antigo

e dura

dura ainda.

 

 

Eugénio de Andrade

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Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio

 

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.

Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos

Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.

(Enlacemos as mãos.)

 

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida

Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,

Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,

Mais longe que os deuses.

 

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.

Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.

Mais vale saber passar silenciosamente

E sem desassosegos grandes.

 

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,

Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,

Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,

E sempre iria ter ao mar.

 

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,

Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,

Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro

Ouvindo correr o rio e vendo-o.

 

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as

No colo, e que o seu perfume suavize o momento -

Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,

Pagãos inocentes da decadência.

 

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois

Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,

Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos

Nem fomos mais do que crianças.

 

E se antes do que eu levares o o'bolo ao barqueiro sombrio,

Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.

Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,

Pagã triste e com flores no regaço.

 

Ricardo Reis

 

 

É lindo sim senhor. Obrigado por partilhares. :wub:

Nada é permanente, salvo a mudança!

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  • 2 weeks later...
Quem morre?

Morre lentamente

Quem se transforma em escravo do hábito,

Repetindo todos os dias os mesmos trajectos,

Quem não muda de marca,

Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente

quem faz da televisão seu guru.

Morre lentamente

quem evita uma paixão,

quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções.

Morre lentamente

quem não vira a mesa quando está infeliz com os seu trabalho,

quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,

quem não se permite pelo menos uma vez na vida,

fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja,

quem não lê,

quem não ouve musica,

quem não encontra graça em si mesmo.

Evitemos a morte em doses suaves,

recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior

que o simples facto de respirar.

Somente a perseverança fará com que conquistemos

um estágio esplêndido de felicidade.

 

Pablo Neruda

Sem dúvida adoro Pablo Neruda (partilhado em tempos pelo Psytrix).. :wub:

 

E acreditem meus amigos apartir de hoje deixei de morrer lentamente...

 

FARTEI-ME!! :lol:

Nada é permanente, salvo a mudança!

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A arte de ser feliz

Cecília Meirelles

 

 

 

Houve um tempo em que minha janela se abria

sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.

Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.

Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,

e o jardim parecia morto.

Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,

e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.

Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.

E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.

Outras vezes encontro nuvens espessas.

Avisto crianças que vão para a escola.

Pardais que pulam pelo muro.

Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.

Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.

Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.

Ás vezes, um galo canta.

Às vezes, um avião passa.

Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.

E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,

que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,

outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,

finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim

:wub:

A única certeza que tenho é não ter certezas.

"... e no fundo isto é tudo uma grande brincadeira!"

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  • 1 month later...

" A coexistência pacífica

entre as pessoas

é

tão fácil

como impossível.

Vidas de violino

Cordas de rabecão."

 

 

Jorge Amorim

quem inventou a distância não sabia o que era a saudade

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  • 5 months later...

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,

mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.

que posso evitar que ela vá a falência.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver,

apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história

É atravessar desertos fora de si,

mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.

É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.

É saber falar de si mesmo.

É ter coragem para ouvir um "não".

É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?

Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

 

(Fernando Pessoa)

 

 

É lindo! :wub:

HFlogo2.jpg
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  • 1 year later...

Matematica lirica

 

"Millor Fernandes"

 

 

Um Quociente apaixonou-se

Um dia

Doidamente

Por uma Incógnita.

 

Olhou-a com seu olhar inumerável

E viu-a, do Ápice à Base...

 

Uma Figura Ímpar;

Olhos rombóides, boca trapezóide,

Corpo ortogonal, seios esferóides.

 

Fez da sua

Uma vida

Paralela a dela.

 

Até que se encontraram

No Infinito.

 

"Quem és tu?" indagou ele

Com ânsia radical.

 

"Sou a soma do quadrado dos catetos.

Mas pode me chamar de Hipotenusa."

 

E de falarem descobriram que eram

- O que, em aritmética, corresponde

A almas irmãs -

Primos-entre-si.

 

E assim se amaram

Ao quadrado da velocidade da luz.

 

Numa sexta potenciação

Traçando

Ao sabor do momento

E da paixão

Rectas, curvas, círculos e linhas senoidais.

 

Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclideanas

E os exegetas do Universo Finito.

 

Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.

E, enfim, resolveram se casar

 

Constituir um lar.

Mais que um lar.

Uma Perpendicular.

 

Convidaram para padrinhos

O Poliedro e a Bissectriz.

 

E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro

Sonhando com uma felicidade

Integral

E diferencial.

 

E se casaram e tiveram uma secante e três cones

Muito engraçadinhos.

 

E foram felizes

Até aquele dia

Em que tudo, afinal,

Vira monotonia.

Foi então que surgiu

O Máximo Divisor Comum...

 

Frequentador de Círculos Concêntricos.

Viciosos.

Ofereceu-lhe, a ela,

Uma Grandeza Absoluta,

E reduziu-a a um Denominador Comum.

 

Ele, Quociente, percebeu

Que com ela não formava mais Um Todo.

Uma Unidade.

 

Era o Triângulo,

Tanto chamado amoroso.

Desse problema ela era a fracção

Mais ordinária.

 

Mas foi então que Einstein descobriu a

Relatividade.

E tudo que era espúrio passou a ser

Moralidade

Como aliás, em qualquer

Sociedade.

astarline.gif

 

O amor é melhor do que a paz.

Eu sou pelo amor...

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  • 4 weeks later...

Deixo aqui a biografia da minha tia avo e uns poemas

 

CURRICULUM

 

 

Maria Ivone de Jesus Pinto Manteigueiro Vairinho nasceu na cidade da Covilhã.

Foi aluna da Escola Industrial e Comercial Campos Melo, tendo sido a melhor finalista do seu curso e a melhor aluna da Escola. Completou os cursos de "Formação Geral do Comércio" e "Complementar do Comércio".

Cursos do Instituto Britânico e da Alliance Française

É diplomada pela Escola Pittea em estenografia portuguesa, francesa e inglesa.

Ainda espera concluir o curso de Literatura Portuguesa, que interrompeu por doença grave.

Durante 39 anos, foi funcionária da Sacor , depois Petrogal (hoje Galp Energia) devido à fusão de quatro empresas - Sacor, Sonap, Cidla e Petrosul. Tem muito orgulho na sua carreira profissional, pois foi sempre promovida através de concursos internos e externos, terminando a sua carreira profissional como Secretária do Conselho de Administração.

 

 

 

 

 

LITERÁRIO

 

 

 

Desde muito nova (15 anos) começou a escrever contos, peças de teatro, autos de Natal e poemas, que foram publicados em diversos jornais e revistas, tendo ganho quatro primeiros prémios em contos (Kemba, a Gazela; Folhas Soltas do meu Diário, Conto de Natal e Carta de Amor para Minha Mãe) e uma menção honrosa em Poesia Lírica no I Concurso Literário da SACOR..

Traduziu muitos livros de Espanhol, Francês e Inglês (entre eles a série Dallas da Televisão e Robinson Crusoe).

Obras publicadas:

ROMANCES

Linhas Trocadas, Amor Cigano (1ª e 2ª Edição), Humilhação de Amor, Uma Mulher Moderna (esgotados)

POESIA

Livro da Dor e da Esperança ( VEGA - Outubro de 1999 - com prefácio de António Alçada Baptista).

Foi colaboradora da "Crónica Feminina", nos seus anos de ouro, desde 1957 a 1982.

 

Também foi colaboradora do jornal "Poetas & Trovadores" e participou em 8 Antologias da ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE POETAS. Tem muitos poemas publicados no Notícias da Covilhã, Cyberletter, revista da APAE-Campos Melo e Boletim da Associação Portuguesa de Poetas

A sua Bio-Bibliografia foi incluída no livro de José Mendes dos Santos "Escritores do Concelho da Covilhã" (página 196 - edição de 1997)

Na Revista Cultural Florinda, edição da Câmara Municipal da Covilhã, no número dedicado aos Poetas do Concelho, foram publicados quatro poemas de sua autoria.

O seu curriculum, mais alargado, foi incluído na rubrica "Artistas da nossa Terra", de Manuel Vaz Correia, que ao longo de dois anos foi publicada semanalmente no jornal "Notícias da Covilhã" e deu depois origem ao livro com o mesmo título, edição da Câmara Municipal da Covilhã, em 1998.

 

 

MÃE-TERRA

 

 

Anoitecia

Quando cheguei.

Cansada, triste, sozinha

Entrei na casa sombria.

 

 

O silêncio era palpável

De um peso insustentável.

 

A tua cadeira vazia

Pareceu-me pesada, fria.

 

 

Faltava-lhe a moldura

Do teu sorriso

Das tuas mãos

Deformadas e velhinhas

Onde morava o refúgio

Para a minha solidão.

 

 

A casa não era a mesma

Tinhas levado contigo

A alma e o coração.

 

 

O silêncio fez-se maior.

No corpo senti o gelo

Das paredes de granito

Tapei a boca

A sufocar um grito.

 

 

Todas as luzes abri

O aquecimento liguei

Mas nada me aquecia

Havia hostilidade

Na sala de ti vazia.

 

 

A brancura das paredes

Tinha uma luz crua

Que quase me agredia.

 

 

Na parede do quarto

Donde fugira toda a luz

O Cristo amargurado

De espinhos coroado

Pareceu passar para mim

O peso da sua cruz.

 

 

Meti-me na cama,gelada,

Confusa, amargurada

Triste, mais triste

Que a noite mais escura.

 

 

E o relógio compassado

Ia descontando as horas

Dum sono sobressaltado.

 

 

De madrugada,

O sol veio brincar

Nas persianas descidas

Pondo centelhas doiradas

Na cal viva das paredes.

Em ouro, foi desenhando,

Na colcha da minha cama,

Rendas de bilros delicadas.

 

 

Um pássaro cantou

No beiral do meu telhado

No quintal o galo lançou

Um cró-cró desafinado.

 

 

 

Abri de par em par

A janela do meu quarto

E por ela vi entrar

O azul intenso do céu

(Lembrando os olhos teus)

O ar puro da Serra

A luz doirada do sol

Das tílias o perfume

O cheiro forte da terra.

 

 

 

O Zêzere, lá ao fundo

Era fita prateada

As montanhas sentinelas

No horizonte perfiladas.

 

 

A casa encheu-se de luz

O Cristo de espinhos coroado

Com ar doce e resignado

Retomou a sua cruz.

 

 

À distância de um abraço

Tinha uma doce velhinha

Com olhos da cor do céu.

Acordara de madrugada

Sentira a minha chegada

Esperava um beijo meu.

 

 

Oh minha Mãe!

Oh minha Terra|

Conjugação do verbo amar

Fonte da água viva

Que dá forças para lutar.

 

 

Também eu sou de granito

Desafiando o infinito

Mas em ti, junto de ti

Reconciliada com a vida

Já não me sinto perdida.

 

 

Minha Mãe-Terra

Meu útero, meu lar

Abre-me os braços

Dá-me o teu regaço

Quero descansar.

 

 

 

Maria Ivone Vairinho

 

(Livro da Dor e da Esperança)

 

 

 

Para quem quiser ler mais pode ir a http://ecosdapoesia.net/autores/mivonevairinho.htm

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  • 3 months later...

FilHoS Da vIDa...

 

"Os vossos filhos nao sao vossos filhos.

Sao filhos e filhas da ansia que a vida tem por si propria.

Nascem atraves de vos, mas nao de vos,

E apesar de estarem convosco, nao vos pertencem.

Podeis dar-lhes o vosso amor, mas nao os vossos pensamentos,

Pois eles tem os seus proprios pensamentos.

Podeis acolher os seus corpos, mas nao as suas almas,

Pois as suas almas moram na casa do amanha, que nao podeis visitar, nem nos vossos sonhos.

Podeis lutar por ser como eles, mas nao tenteis torna-los como vos.

Sois o arco dos quais vossos filhos sao lancados, quais flechas vivas.

Deixai-vos retesar nas maos do archeiro com a mira na felicidade."

 

-Kahlil Gibran, o Profeta

Some say the end is near.Some say we'll see Armageddon soon.

I certainly hope we will.I sure could use a vacation from this............

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  • 2 weeks later...

TABACARIA

 

Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

 

Janelas do meu quarto,

Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é

(E se soubessem quem é, o que saberiam?),

Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,

Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,

Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,

Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,

Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,

Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

 

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.

Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,

E não tivesse mais irmandade com as coisas

Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua

A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada

De dentro da minha cabeça,

E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

 

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.

Estou hoje dividido entre a lealdade que devo

À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,

E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

 

Falhei em tudo.

Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.

A aprendizagem que me deram,

Desci dela pela janela das traseiras da casa.

Fui até ao campo com grandes propósitos.

Mas lá encontrei só ervas e árvores,

E quando havia gente era igual à outra.

Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

 

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?

Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!

E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!

Gênio? Neste momento

Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,

E a história não marcará, quem sabe?, nem um,

Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.

Não, não creio em mim.

Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!

Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?

Não, nem em mim...

Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo

Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?

Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -

Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,

E quem sabe se realizáveis,

Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?

O mundo é para quem nasce para o conquistar

E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.

Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.

Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,

Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.

Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,

Ainda que não more nela;

Serei sempre o que não nasceu para isso;

Serei sempre só o que tinha qualidades;

Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,

E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,

E ouviu a voz de Deus num poço tapado.

Crer em mim? Não, nem em nada.

Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente

O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,

E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.

Escravos cardíacos das estrelas,

Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;

Mas acordamos e ele é opaco,

Levantamo-nos e ele é alheio,

Saímos de casa e ele é a terra inteira,

Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

 

(Come chocolates, pequena;

Come chocolates!

Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.

Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.

Come, pequena suja, come!

Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!

Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,

Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

 

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei

A caligrafia rápida destes versos,

Pórtico partido para o Impossível.

Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,

Nobre ao menos no gesto largo com que atiro

A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,

E fico em casa sem camisa.

 

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,

Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,

Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,

Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,

Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,

Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,

Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -

Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!

Meu coração é um balde despejado.

Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco

A mim mesmo e não encontro nada.

Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.

Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,

Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,

Vejo os cães que também existem,

E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,

E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

 

Vivi, estudei, amei e até cri,

E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.

Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,

E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses

(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);

Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo

E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

 

Fiz de mim o que não soube

E o que podia fazer de mim não o fiz.

O dominó que vesti era errado.

Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.

Quando quis tirar a máscara,

Estava pegada à cara.

Quando a tirei e me vi ao espelho,

Já tinha envelhecido.

Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.

Deitei fora a máscara e dormi no vestiário

Como um cão tolerado pela gerência

Por ser inofensivo

E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

 

Essência musical dos meus versos inúteis,

Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,

E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,

Calcando aos pés a consciência de estar existindo,

Como um tapete em que um bêbado tropeça

Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

 

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.

Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada

E com o desconforto da alma mal-entendendo.

Ele morrerá e eu morrerei.

Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.

A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.

Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,

E a língua em que foram escritos os versos.

Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.

Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente

Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

 

Sempre uma coisa defronte da outra,

Sempre uma coisa tão inútil como a outra,

Sempre o impossível tão estúpido como o real,

Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,

Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

 

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)

E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.

Semiergo-me enérgico, convencido, humano,

E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

 

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los

E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.

Sigo o fumo como uma rota própria,

E gozo, num momento sensitivo e competente,

A libertação de todas as especulações

E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

 

Depois deito-me para trás na cadeira

E continuo fumando.

Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

 

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira

Talvez fosse feliz.)

Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.

 

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).

Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.

(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)

Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.

Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo

Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

 

Álvaro de Campos

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  • 4 weeks later...

DESEJO

 

 

 

 

 

Do poeta Victor Hugo

 

 

 

 

 

” Desejo primeiro que você ame,

E que amando, também seja amado.

E que se não for, seja breve em esquecer.

E que esquecendo, não guarde mágoa.

Desejo, pois, que não seja assim,

Mas se for, saiba ser sem desesperar.

 

Desejo também que tenha amigos,

Que mesmo maus e inconseqüentes,

Sejam corajosos e fiéis,

E que pelo menos num deles

Você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim,

 

Desejo ainda que você tenha inimigos.

Nem muitos, nem poucos,

Mas na medida exata para que, algumas vezes,

Você se interpele a respeito

De suas próprias certezas.

E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,

Para que você não se sinta demasiado seguro.

 

Desejo depois que você seja útil,

Mas não insubstituível.

E que nos maus momentos,

Quando não restar mais nada,

Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

 

Desejo ainda que você seja tolerante,

Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,

Mas com os que erram muito e irremediavelmente,

E que fazendo bom uso dessa tolerância,

Você sirva de exemplo aos outros.

 

Desejo que você, sendo jovem,

Não amadureça depressa demais,

E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer

E que sendo velho, não se dedique ao desespero.

Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por entre nós.

 

Desejo por sinal que você seja triste,

Não o ano todo, mas apenas um dia.

Mas que nesse dia descubra

Que o riso diário é bom,

O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

 

Desejo que você descubra,

Com o máximo de urgência,

Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,

Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

 

Desejo ainda que você afague um gato,

Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro

Erguer triunfante o seu canto matinal

Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

 

Desejo também que você plante uma semente,

Por mais minúscula que seja,

E acompanhe o seu crescimento,

Para que você saiba de quantas

Muitas vidas é feita uma árvore.

 

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,

Porque é preciso ser prático.

E que pelo menos uma vez por ano

Coloque um pouco dele

Na sua frente e diga "Isso é meu",

Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

 

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,

Por ele e por você,

Mas que se morrer, você possa chorar

Sem se lamentar e sofrer sem se culpar

 

Desejo por fim que você sendo homem,

Tenha uma boa mulher,

E que sendo mulher,

Tenha um bom homem

E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,

E quando estiverem exaustos e sorridentes,

Ainda haja amor para recomeçar.

 

E se tudo isso acontecer,

Não tenho mais nada a te desejar".

astarline.gif

 

O amor é melhor do que a paz.

Eu sou pelo amor...

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Porque

 

Porque os outros se mascaram mas tu não

Porque os outros usam a virtude

Para comprar o que não tem perdão

Porque os outros têm medo mas tu não

 

Porque os outros são os túmulos caiados

Onde germina calada a podridão.

Porque os outros se calam mas tu não.

 

Porque os outros se compram e se vendem

E os seus gestos dão sempre dividendo.

Porque os outros são hábeis mas tu não.

 

Porque os outros vão à sombra dos abrigos

E tu vais de mãos dadas com os perigos.

Porque os outros calculam mas tu não.

 

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

DJ Ganeisha

 

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Letra para um hino

 

É possível falar sem um nó na garganta

é possível amar sem que venham proibir

é possível correr sem que seja fugir.

Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

 

É possível andar sem olhar para o chão

é possível viver sem que seja de rastos.

Os teus olhos nasceram para olhar os astros

se te apetece dizer não grita comigo: não.

 

É possível viver de outro modo. É

possível transformares em arma a tua mão.

É possível o amor. É possível o pão.

É possível viver de pé.

 

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.

É possível viver sem fingir que se vive.

É possível ser homem.

É possível ser livre livre livre.

 

Manuel Alegre

DJ Ganeisha

 

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  • 3 months later...

An indefinite color

Spread itself around us as if it was destiny itself.

The flaming sphere is gone.

The everlasting process is tearing our thoughts

Into the smallest fragments of existence.

We will love once more,

Our tears will once more be warmed by love.

A long gaze into that grimness pulls the soul back into the past

where it was spoken only about the future.

Come away with me to that place

Where the grass grows above us and we walk across the sky…

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  • 4 weeks later...

LUA ADVERSA @ Cecília Meireles

 

Tenho fases, como a lua

Fases de andar escondida,

fases de vir para a rua...

Perdição da minha vida!

Perdição da vida minha!

Tenho fases de ser tua,

tenho outras de ser sozinha.

 

Fases que vão e que vêm,

no secreto calendário

que um astrólogo arbitrário

inventou para meu uso.

E roda a melancolia

seu interminável fuso!

 

 

Não me encontro com ninguém

(tenho fases, como a lua...)

No dia de alguém ser meu

não é dia de eu ser sua...

E, quando chega esse dia,

o outro desapareceu...

 

 

:ph34r:

Nada é permanente, salvo a mudança!

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outro de Pablo Neruda...

 

 

É Proibido

 

"É proibido chorar sem aprender,

Levantar-se um dia sem saber o que fazer

Ter medo de suas lembranças.

 

É proibido não rir dos problemas

Não lutar pelo que se quer,

Abandonar tudo por medo,

 

Não transformar sonhos em realidade.

É proibido não demonstrar amor

Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.

É proibido deixar os amigos

 

Não tentar compreender o que viveram juntos

Chamá-los somente quando necessita deles.

É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,

Fingir que elas não te importam,

 

Ser gentil só para que se lembrem de você,

Esquecer aqueles que gostam de você.

É proibido não fazer as coisas por si mesmo,

Não crer em Deus e fazer seu destino,

 

Ter medo da vida e de seus compromissos,

Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.

É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,

 

Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se

desencontraram,

Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.

É proibido não tentar compreender as pessoas,

Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,

 

Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.

É proibido não criar sua história,

Deixar de dar graças a Deus por sua vida,

 

Não ter um momento para quem necessita de você,

Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.

É proibido não buscar a felicidade,

 

Não viver sua vida com uma atitude positiva,

Não pensar que podemos ser melhores,

Não sentir que sem você este mundo não seria igual."

 

 

:wub:

Nada é permanente, salvo a mudança!

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Dylan Thomas (1914-1953)

 

And Death Shall Have no Dominion

 

 

And death shall have no dominion.

Dead men naked they shall be one

With the man in the wind and the west moon;

When their bones are picked clean and the clean bones gone,

They shall have stars at elbow and foot;

Though they go mad they shall be sane,

Though they sink through the sea they shall rise again;

Though lovers be lost love shall not;

And death shall have no dominion.

 

And death shall have no dominion.

Under the windings of the sea

They lying long shall not die windily;

Twisting on racks when sinews give way,

Strapped to a wheel, yet they shall not break;

Faith in their hands shall snap in two,

And the unicorn evils run them through;

Split all ends up they shan't crack;

And death shall have no dominion.

 

And death shall have no dominion.

No more may gulls cry at their ears

Or waves break loud on the seashores;

Where blew a flower may a flower no more

Lift its head to the blows of the rain;

Though they be mad and dead as nails,

Heads of the characters hammer through daisies;

Break in the sun till the sun breaks down,

And death shall have no dominion.

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  • 2 weeks later...

Desejo à você...

Fruto do mato

Cheiro de jardim

Namoro no portão

Domingo sem chuva

Segunda sem mal humor

Sábado com seu amor

Filme do Carlitos

Chope com os amigos

Crônica de Rubem Braga

Viver sem inimigos

Filme antigo na TV

Ter uma pessoa especial

E que ela goste de você

Música de Tom com letra de Chico

Frango caipira em pensão do interior

Ouvir uma palavra amável

Ter uma surpresa agradável

Ver a banda passar

Noite de lua cheia

Rever uma velha amizade

Ter fé em Deus

Não ter que ouvir a palavra não

Nem nunca, nem jamais e adeus.

Rir como criança

Ouvir canto de passarinho

Sarar de resfriado

Escrever um poema de amor

Que nunca será rasgado

Formar um par ideal

Tomar banho de cachoeira

Pegar um bronzeado legal

Aprender uma nova canção

Esperar alguém na estação

Queijo com goiabada

Pôr-do-sol na roça

Uma festa

Um violão

Uma seresta

Recordar um amor antigo

Ter um ombro sempre amigo

Bater palmas de alegria

Uma tarde amena

Calçar um velho chinelo

Sentar numa velha poltrona

Tocar violão para alguém

Ouvir a chuva no telhado

Vinho branco

Bolero de Ravel

E muito carinho meu.

 

Carlos Drummond

astarline.gif

 

O amor é melhor do que a paz.

Eu sou pelo amor...

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Aprendi que se aprende errando

Que crescer não significa fazer aniversário

Que o silêncio é a melhor resposta, quando se ouve uma bobagem

Que trabalhar significa não só ganhar dinheiro

Que amigos a gente conquista mostrando o que somos

Que os verdadeiros amigos sempre ficam com você até o fim

Que a maldade se esconde atrás de uma bela face

Que não se espera a felicidade chegar, mas se procura por ela

Que quando penso saber de tudo ainda não aprendi nada

Que a Natureza é a coisa mais bela na Vida

Que amar significa se dar por inteiro

Que um só dia pode ser mais importante que muitos anos

Que se pode conversar com estrelas

Que se pode confessar com a Lua

Que se pode viajar além do infinito

Que ouvir uma palavra de carinho faz bem à saúde

Que dar um carinho também faz...

Que sonhar é preciso

Que se deve ser criança a vida toda

Que nosso ser é livre

Que Deus não proíbe nada em nome do amor

Que o julgamento alheio não é importante

Que o que realmente importa é a Paz Interior

E finalmente, aprendi que não se pode morrer, prá se aprender a viver...

 

cta ( não tem nome ! )

 

ups.. isto rima ??

...

Tiago

Fala com as pessoas.

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  • 2 weeks later...
  • 2 weeks later...

O POETA E A LUA

 

Em meio a um cristal de ecos

O poeta vai pela rua

Seus olhos verdes de éter

Abrem cavernas na lua.

A lua volta de flanco

Eriçada de luxúria

O poeta, aloucado e branco

Palpa as nádegas da lua.

 

 

Entre as esfera nitente

Tremeluzem pelos fulvos

O poeta, de olhar dormente

Entreabre o pente da lua.

 

Em frouxos de luz e água

Palpita a ferida crua

O poeta todo se lava

De palidez e doçura.

 

Ardente e desesperada

A lua vira em decúbito

A vinda lenta do espasmo

Aguça as pontas da lua.

 

O poeta afaga-lhe os braços

E o ventre que se menstrua

A lua se curva em arco

Num delírio de luxúria.

 

O gozo aumenta de súbito

Em frêmitos que perduram

A lua vira o outro quarto

E fica de frente, nua.

 

O orgasmo desce do espaço

Desfeito em estrelas e nuvens

Nos ventos do mar perpassa

Um salso cheiro de lua

E a lua, no êxtase, cresce

Se dilata e alteia e estua

O poeta se deixa em prece

Ante a beleza da lua.

 

Depois a lua adormece

E míngua e se apazigua...

O poeta desaparece

Envolto em cantos e plumas

Enquanto a noite enlouquece

No seu claustro de ciúmes.

 

Vinícius de Morais

astarline.gif

 

O amor é melhor do que a paz.

Eu sou pelo amor...

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  • 4 weeks later...

És cruz, és flor.

Dos ventos sem direcção que não seja o centro.

Sustentada pelos braços como amiga que chega.

És orvalho e sangue para o corpo trespassado de sede.

És árvore em silêncio onde escutamos a palavra em carne viva.

És árvore inteira que te fizeste espelho.

Amo-te

 

 

Victor Cohen in http://www.starconsulte.com/poesia/grafismo/index.html

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Recomeçar... 683468529.img.small.jpg

 

Não importa onde você parou... em que momento da vida você cansou...o que importa é que sempre é possível e necessário "Recomeçar". Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo...é renovar as esperanças na vida e o mais importante... acreditar em você de novo. Sofreu muito nesse período? Foi aprendizado...

 

Chorou muito? Foi limpeza da alma... Ficou com raiva das pessoas? Foi para perdoá-las um dia... Sentiu-se só por diversas vezes? É porque fechaste a porta até para os anjos...

 

Acreditou que tudo estava perdido? Era o início da tua melhora... Pois é...agora é hora de reiniciar...de pensar na luz...de encontrar prazer nas coisas simples de novo. Que tal um corte de cabelo arrojado... diferente? Roupas novas? Um novo curso... ou qualquer outra coisa. Olha quanto desafio...quanta coisa nova nesse mundo te esperando.

 

Ta se sentindo sozinho? besteira... tem tanta gente que você afastou com o seu "período de isolamento"...tem tanta gente esperando apenas um sorriso teu para" chegar" perto de você. Quando nos trancamos na tristeza... ficamos horríveis... o mau humor vai comendo nosso fígado...até a boca fica amarga. Recomeçar...

 

Hoje é um bom dia para começar novos desafios. Onde você quer chegar? Vá alto... sonhe alto... queira o melhor do melhor... se desejarmos fortemente o melhor e principalmente lutarmos pelo melhor... Só o melhor vai se instalar na nossa vida.

 

E é hoje o dia da faxina mental... joga fora tudo que te prende ao passado...ao mundinho de coisas tristes... fotos... peças de roupa, bilhetes de viagens... e toda aquela tranqueira que guardamos...jogue tudo fora... mas principalmente...esvazie seu coração...e fique pronto pra VIDA!

 

"Porque eu sou do tamanho daquilo que sinto, que vejo e que faço, não do tamanho que os outros me enxergam".

 

 

Carlos Drummond Andrade :wub:

Nada é permanente, salvo a mudança!

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exactamente cookie os outros só te enxergam como cookie mas tu tambem és a pyrosfilk, a bolachini e muitos outros clones nao divulgados por quem os deveria divulgar... :glare:

 

és mesmo grande :lol:

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  • 1 month later...

um poema de um dos poetas que mais gosto, Al Berto,

 

 

 

Acendo um cigarro e falo com o meu coração: enterra o corpo na luz e na seiva da manhã, dorme. Sonha até que a noite regresse de novo ao sangue e desperte o canto dos astros.

Diante de ti, pelos caminhos de terra e de água, os animais da noite aproximam-se luminescentes, falam-te em sussurro. A terra abre-se à subtilidade dos fogos. Um novo corpo surge no início imemorial do ouro e das geadas.

Os animais são formas etéreas que se te colam à pele. Da humilde casa que habitámos pouco resta. As urzes irrompem dos alicerces, recortam-se no escuro, e as sombras dos frutos em contraluz formam geometrias e constelações. Um peixe brilha sobre as pedras, morto.

Enumera os alimentos, o olho, o círculo das chamas, o limbo dos dias sem ninguém. Fala com os animais da noite, segreda-lhes o que em voz alta não é possivel dizer.

Prepara o lume, solta as aves, adormece em cima do mar.

Vai pelas dunas agrestes da manhã e canta. Canta, onde um rosto nómada te recorda o corpo vivo da noite que foste --- a fresca alba das galáxias.

 

 

:give_heart:

lindo.

"..we're little bit of eternity, sticking into 3 dimensional space, and for some reason, ocupying time in a monkey body.."

 

seloc006.jpg

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  • 1 month later...

"Tenho de escolher o que detesto - ou o sonho, que a minha inteligência odeia, ou a ação, que a minha sensibilidade repugna;

ou a ação, para que não nasci, ou o sonho, para que ninguém nasceu.

 

Resulta que, como detesto ambos, não escolho nenhum; mas como hei-de, em certa ocasião, ou sonhar ou agir,

misturo uma coisa com outra."

 

Bernardo soares aka F.P.

 

:snorkel:

"INTERVAL" . ELECTRONIC, CINEMATIC & ACUSTIC AMBIENT

 

http://soundcloud.com/m-ms/interval-origami-sound

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  • 2 weeks later...

E assim aconteceu, amestrando ventos e tempestades

Mares calmos em outros tempos, revoltos os são, agora que lhes foi sonegado o ar que os alimentava, Rugem como se fossem uma ferida aberta, em sua passagem, pois quando a natureza lhes prestar vassalagem, pouco haverá a fazer,

O homem com o seu auto-conhecimento conseguido através da ciência, logra em ser deus, algo de absoluto, divino em si e nos seus actos, e que por tais pensamentos grandiosos, um dia serão julgados.

Como podemos ser perfeitos se somos imperfeitos?

 

O próprio sentido da vida, a fé, urge-se em instalar, para com indivíduos que num passado não muito distante exibiam-se como lobos solitários e de pensamentos livres, Proclamando sabedorias e conhecimento sem causa, mas, será que a juventude não consegue vincar os valores inerentes a qualquer homem de bem? Ou será que a sensação de poder e controlo se impõe, rasgando tudo o que nos moldou?

 

O despotismo alastra-se, mascarado de várias liberdades, cresce envolto em sociedades individualizadas pela tecnologia ligando a ilusão de cada um a todos nós, sendo que ninguém sabe para onde caminha porque ninguém o quer saber, sociedades corrompidas pelo poder, a ganância, o controlo, tudo com uma ciência cada vez mais verosímil na capacidade de o homem se tornar o ser absoluto.

Deleitamo-nos com a manipulação da vida, transformando a nossa condição humana a uns simples zeros e uns, apagando o acto de livre arbítrio que é a nossa criação, automatizados estamos na nossa vida por outros terem uma espécie de niilismo idílico reservado para todos nós.

Rejeitamos todos os valores alcançados pelo amor, a paz, a felicidade, a prosperação de e para todos nós e não…

A escravidão que nos é dada numa bandeja repleta de todos os nossos “queros”, “possos” e “mandos”, satisfazendo o nosso ego de materialismos subversivamente desejados,

E embora as fantasias estejam repletas de utopias, elas não são mais do que um aperfeiçoamento da nossa imperfeição como seres, rejeitamo-nos como tal por procurar-mos o colectivismo soberano em vez do “eu” que cada vez é menos livre de se expressar no espaço global contemporâneo, e, se não acordarmos agora ao canto da sereia que nos embala, adormecidos ficaremos e padeceremos sob uma falsa noção de progresso para a humanidade.

 

A violência é a arma dos impotentes!!!

 

 

TR4D3R

"The New World Order will be built an end run on national sovereignty all over the world.

eroding it piece by piece will accomplish much more than the old fashioned fronter assault"

 

Council on Foreign Relations

 

"To protect the New Wold Order Americans will have to kill or die" Arthur Schlesinger CFR

 

"We will have World Government either we like or no not" - Paul Walburg

 

"In the next century countries as we know will be obsolete, all must recognize one wold government"

 

Strobe Talbott antigo secretário de estado de Bill Clinton

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  • 1 month later...

Homens com gripe

 

 

 

 

 

 

Pachos na testa, terço na mão,

Uma botija, chá de limão,

Zaragatoas, vinho com mel,

Três aspirinas, creme na pele

Grito de medo, chamo a mulher.

Ai Lurdes que vou morrer.

Mede-me a febre, olha-me a goela,

Cala os miúdos, fecha a janela,

Não quero canja, nem a salada,

Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.

Se tu sonhasses como me sinto,

vejo a morte nunca te minto,

Já vejo o inferno, chamas, diabos,

anjos estranhos, cornos e rabos,

Vejo demónios nas suas danças

Tigres sem listras, bodes sem tranças

Choros de coruja, risos de grilo

Ai Lurdes, Lurdes fica comigo

Não é o pingo de uma torneira,

Põe-me a Santinha à cabeceira,

Compõe-me a colcha,

Fala ao prior,

Pousa o Jesus no cobertor.

Chama o Doutor, passa a chamada,

Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.

Faz-me tisanas e pão de ló,

Não te levantes que fico só,

Aqui sózinho a apodrecer,

Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.

 

 

ANTÓNIO LOBO ANTUNES

Bebam lá leite, vá!.... .

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  • 4 weeks later...

Autopsicografia

 

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

 

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas* que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

 

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.

 

De Fernando Pessoa

 

 

 

* dores

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  • 3 weeks later...

VIVA A ÁGUA

 

Escrito por Manoel Maria Barbosa du Bocage - Um clássico da literatura Portuguesa:

 

A ÁGUA

 

Meus senhores eu sou a água

 

que lava a cara, que lava os olhos

 

que lava a rata e os entrefolhos

 

que lava a nabiça e os agriões

 

que lava a piça e os colhões

 

que lava as damas e o que está vago

 

pois lava as mamas e por onde cago.

 

 

Meus senhores aqui está a água

 

que rega a salsa e o rabanete

 

que lava a língua a quem faz minete

 

que lava o chibo mesmo da rasca

 

tira o cheiro a bacalhau da lasca

 

que bebe o homem que bebe o cão

 

que lava a cona e o berbigão

 

 

Meus senhores aqui está a água

 

que lava os olhos e os grelinhos

 

que lava a cona e os paninhos

 

que lava o sangue das grandes lutas

 

que lava sérias e lava putas

 

apaga o lume e o borralho

 

e que lava as guelras ao caralho

 

 

Meus senhores aqui está a água

 

que rega as rosas e os manjericos

 

que lava o bidé, lava penicos

 

tira mau cheiro das algibeiras

 

dá de beber às fressureiras

 

lava a tromba a qualquer fantoche e

 

lava a boca depois de um broche.

astarline.gif

 

O amor é melhor do que a paz.

Eu sou pelo amor...

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António Gedeão

 

 

Luísa sobe, sobe a calçada,

sobe e não pode que vai cansada.

 

Sobe, Luísa, Luísa, sobe,

sobe que sobe sobe a calçada.

 

Saiu de casa

de madrugada;

regressa a casa

é já noite fechada.

Na mão grosseira,

de pele queimada,

leva a lancheira

desengonçada.

 

Anda, Luísa, Luísa, sobe,

sobe que sobe, sobe a calçada.

 

Luísa é nova,

desenxovalhada,

tem perna gorda,

bem torneada.

Ferve-lhe o sangue

de afogueada;

saltam-lhe os peitos

na caminhada.

 

Anda, Luísa. Luísa, sobe,

sobe que sobe, sobe a calçada.

 

Passam magalas,

rapaziada,

palpam-lhe as coxas

não dá por nada.

 

Anda, Luísa, Luísa, sobe,

sobe que sobe, sobe a calçada.

 

Chegou a casa

não disse nada.

Pegou na filha,

deu-lhe a mamada;

bebeu a sopa

numa golada;

lavou a loiça,

varreu a escada;

deu jeito à casa

desarranjada;

coseu a roupa

já remendada;

despiu-se à pressa,

desinteressada;

caiu na cama

de uma assentada;

chegou o homem,

viu-a deitada;

serviu-se dela,

não deu por nada.

 

Anda, Luísa. Luísa, sobe,

sobe que sobe, sobe a calçada.

 

Na manhã débil,

sem alvorada,

salta da cama,

desembestada;

puxa da filha,

dá-lhe a mamada;

veste-se à pressa,

desengonçada;

anda, ciranda,

desaustinada;

range o soalho

a cada passada,

salta para a rua,

corre açodada,

galga o passeio,

desce o passeio,

desce a calçada,

chega à oficina

à hora marcada,

puxa que puxa, larga que larga,[x 4]

toca a sineta

na hora aprazada,

corre à cantina,

volta à toada,

puxa que puxa, larga que larga,[x 4]

 

Regressa a casa

é já noite fechada.

Luísa arqueja

pela calçada.

 

Anda, Luísa, Luísa, sobe,

sobe que sobe, sobe a calçada, [x 3]

 

Anda, Luísa, Luísa, sobe,

sobe que sobe, sobe a calçada.

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  • 3 weeks later...

"Conheci um homem que possuía uma cabeça de vidro.

Víamos -pelo lado menos sombrio do pensamento- todo o sistema planetário.

Víamos o tremelicar da luz nas veias e o lodo das emoções na ponta dos dedos.O latejar do tempo na humidade dos lábios.

E a insónia ,com seus anéis de luas quebradas e espermas ressequidos.As estrelas mortas das cidades imaginadas.

Os ossos (tristes) das palavras.

 

A noite cerca a mão inteligente do homem que possui uma cabeça transparente.

Em redor dele chove.

Podemos adivinhar um chuva espessa,negra,plúmbea.

Depois, o homem abre a mão, uma laranja surge,esvoaça.

As cidades(como em todos os livros que li) ardem.Incêndios que destroem o último coração do sonho.

Mas aquele que se veste com a pele porosa da sua própria escrita olha,absorto,a laranja.

 

A queda da laranja provocará o poema?

A laranja voadora é ,ou não é,uma laranja imaginada por um louco?

E um louco,saberá o que é uma laranja?

E se a laranja cair?E o poema? E o poema com uma laranja a cair?

E o poema em forma de laranja?

E se eu comer a laranja,estarei a devorar o poema?A ficar louco?

(...)

E a palavra laranja existirá sem a laranja?

E a laranja voará sem a palavra laranja?

E se a laranja se iluminar a partir do seu centro, do seu gomo mais secreto,e alguém a (esquecer) no meio da noite-servirá(o brilho)da laranja para iluminar as cidades há muito mortas?

E se a laranja se deslocar no espaço-mais depressa que o pensamento, e muito mais devagar que a laranja escrita-criará uma ordem ou um caos?

 

O homem que possui uma cabeça de vidro habita o lado de fora das muralhas da cidade.

Foi escorraçado.

(E)na desolação das terras,noite dentro,vigia os seus próprios sonhos e pesadelos.Os seus próprios gestos-e um rosto suspenso na solidão.

 

Onde mora o homem que ousou escrever com a unha na sua alma,no seu sexo,no seu coração?

E se escreveu laranja na alma,a alma ficará saborosa?

E se escreveu laranja no coração,a paixão impedi-lo-á de morrer?

E se escreveu laranja no sexo, o desejo aumentará?

 

Onde está a vida do homem que escreve, a vida da laranja,a vida do poema-a Vida,sem mais nada-estará aqui?

Fora das muralhas da cidade?

No interior do meu corpo? ou muito longe de mim-onde sei que possuo uma outra razão...e me suicido na tentativa de me transformar em poema e poder,enfim,circular livremente.

 

De: O Medo

 

Al Berto

"INTERVAL" . ELECTRONIC, CINEMATIC & ACUSTIC AMBIENT

 

http://soundcloud.com/m-ms/interval-origami-sound

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  • 3 months later...

Mr.Universo Tu que és o homem tão bom, tão bom...quase perfeito!

Tu que és o Super-homem,o Batman e Homem-aranha.

Ainda és o D. Juan, que deixa o mulheredo todo satisfeito.

E até és mais que homem,mais que herói, mais que galã,

Socorres as gajas todas, depois de as teres desfeito.

Tu que és o tal, the one, numero uno, o talismã.

Explica-me, porque vives a mentira de me teres feito...

Esclarece-me da necessidade que tens de que todos pensem que fui tua

Insistes em acreditar que...

Eu olhei para ti num belo dia de sol e logo me apaixonei

Que por ser tão pura, tentei te resistir,

Que por seres tão bom, não fui capaz. E acabei por cair.

Tu que és o ás, o campeão, a estrela,

Vê lá se acordas dessa novela!

Não vai acontecer nunca. Nunca me vais fazer.

Não decides sozinho...como deves perceber!

Assusta-me o facto de seres tão fantástico,

Tenho medo da tua magnitude.

Concordo que é estranha a minha atitude,

Mas gosto de homenzinhos comuns, com defeitos...

Amo homens que choram, que têm medo, que fraquejam

Homens nem sempre satisfeitos.

Desejo os que ás vezes mentem, os que por vezes fogem

Que falam coisas banais, que gaguejam

São esses que quero, são esses que comigo combinam.

Tu, ó quase Deus, com a tua quase imortalidade

Que vives nessa quase tua realidade

Digo-te... e sabes que gosto de falar verdade,

Se me esquecesses...davas-me quase a felicidade. Mafalda Roma

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Opiário

por Fernando Pessoa (heterônimo: Álvaro de Campos)

 

 

 

 

Ao Senhor Mário de Sá-Carneiro

 

 

 

 

É antes do ópio que a minh'alma é doente.

Sentir a vida convalesce e estiola

E eu vou buscar ao ópio que consola

Um Oriente ao oriente do Oriente.

 

Esta vida de bordo há-de matar-me.

São dias só de febre na cabeça

E, por mais que procure até que adoeça,

já não encontro a mola pra adaptar-me.

 

Em paradoxo e incompetência astral

Eu vivo a vincos de ouro a minha vida,

Onda onde o pundonor é uma descida

E os próprios gozos gânglios do meu mal.

 

É por um mecanismo de desastres,

Uma engrenagem com volantes falsos,

Que passo entre visões de cadafalsos

Num jardim onde há flores no ar, sem hastes.

 

Vou cambaleando através do lavor

Duma vida-interior de renda e laca.

Tenho a impressão de ter em casa a faca

Com que foi degolado o Precursor.

 

Ando expiando um crime numa mala,

Que um avô meu cometeu por requinte.

Tenho os nervos na forca, vinte a vinte,

E caí no ópio como numa vala.

 

Ao toque adormecido da morfina

Perco-me em transparências latejantes

E numa noite cheia de brilhantes,

Ergue-se a lua como a minha Sina.

 

Eu, que fui sempre um mau estudante, agora

Não faço mais que ver o navio ir

Pelo canal de Suez a conduzir

A minha vida, cânfora na aurora.

 

Perdi os dias que já aproveitara.

Trabalhei para ter só o cansaço

Que é hoje em mim uma espécie de braço

Que ao meu pescoço me sufoca e ampara.

 

E fui criança como toda a gente.

Nasci numa província portuguesa

E tenho conhecido gente inglesa

Que diz que eu sei inglês perfeitamente.

 

Gostava de ter poemas e novelas

Publicados por Plon e no Mercure,

Mas é impossível que esta vida dure.

Se nesta viagem nem houve procelas!

 

A vida a bordo é uma coisa triste,

Embora a gente se divirta às vezes.

Falo com alemães, suecos e ingleses

E a minha mágoa de viver persiste.

 

Eu acho que não vale a pena ter

Ido ao Oriente e visto a índia e a China.

A terra é semelhante e pequenina

E há só uma maneira de viver.

 

Por isso eu tomo ópio. É um remédio

Sou um convalescente do Momento.

Moro no rés-do-chão do pensamento

E ver passar a Vida faz-me tédio.

 

Fumo. Canso. Ah uma terra aonde, enfim,

Muito a leste não fosse o oeste já!

Pra que fui visitar a Índia que há

Se não há Índia senão a alma em mim?

 

Sou desgraçado por meu morgadio.

Os ciganos roubaram minha Sorte.

Talvez nem mesmo encontre ao pé da morte

Um lugar que me abrigue do meu frio.

 

Eu fingi que estudei engenharia.

Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda.

Meu coração é uma avòzinha que anda

Pedindo esmola às portas da Alegria.

 

Não chegues a Port-Said, navio de ferro!

Volta à direita, nem eu sei para onde.

Passo os dias no smokink-room com o conde -

Um escroc francês, conde de fim de enterro.

 

Volto à Europa descontente, e em sortes

De vir a ser um poeta sonambólico.

Eu sou monárquico mas não católico

E gostava de ser as coisas fortes.

 

Gostava de ter crenças e dinheiro,

Ser vária gente insípida que vi.

Hoje, afinal, não sou senão, aqui,

Num navio qualquer um passageiro.

 

Não tenho personalidade alguma.

É mais notado que eu esse criado

De bordo que tem um belo modo alçado

De laird escocês há dias em jejum.

 

Não posso estar em parte alguma.

A minha Pátria é onde não estou.

Sou doente e fraco.

O comissário de bordo é velhaco.

Viu-me co'a sueca... e o resto ele adivinha.

 

Um dia faço escândalo cá a bordo,

Só para dar que falar de mim aos mais.

Não posso com a vida, e acho fatais

As iras com que às vezes me debordo.

 

Levo o dia a fumar, a beber coisas,

Drogas americanas que entontecem,

E eu já tão bêbado sem nada! Dessem

Melhor cérebro aos meus nervos como rosas.

 

Escrevo estas linhas. Parece impossível

Que mesmo ao ter talento eu mal o sinta!

O fato é que esta vida é uma quinta

Onde se aborrece uma alma sensível.

 

Os ingleses são feitos pra existir.

Não há gente como esta pra estar feita

Com a Tranqüilidade. A gente deita

Um vintém e sai um deles a sorrir.

 

Pertenço a um gênero de portugueses

Que depois de estar a Índia descoberta

Ficaram sem trabalho. A morte é certa.

Tenho pensado nisto muitas vezes.

 

Leve o diabo a vida e a gente tê-la!

Nem leio o livro à minha cabeceira.

Enoja-me o Oriente. É uma esteira

Que a gente enrola e deixa de ser bela.

 

Caio no ópio por força. Lá querer

Que eu leve a limpo uma vida destas

Não se pode exigir. Almas honestas

Com horas pra dormir e pra comer,

 

Que um raio as parta! E isto afinal é inveja.

Porque estes nervos são a minha morte.

Não haver um navio que me transporte

Para onde eu nada queira que o não veja!

 

Ora! Eu cansava-me o mesmo modo.

Qu'ria outro ópio mais forte pra ir de ali

Para sonhos que dessem cabo de mim

E pregassem comigo nalgum lodo.

 

Febre! Se isto que tenho não é febre,

Não sei como é que se tem febre e sente.

O fato essencial é que estou doente.

Está corrida, amigos, esta lebre.

 

Veio a noite. Tocou já a primeira

Corneta, pra vestir para o jantar.

Vida social por cima! Isso! E marchar

Até que a gente saia pla coleira!

 

Porque isto acaba mal e há-de haver

(Olá!) sangue e um revólver lá pró fim

Deste desassossego que há em mim

E não há forma de se resolver.

 

E quem me olhar, há-de-me achar banal,

A mim e à minha vida... Ora! um rapaz...

O meu próprio monóculo me faz

Pertencer a um tipo universal.

 

Ah quanta alma viverá, que ande metida

Assim como eu na Linha, e como eu mística!

Quantos sob a casaca característica

Não terão como eu o horror à vida?

 

Se ao menos eu por fora fosse tão

Interessante como sou por dentro!

Vou no Maelstrom, cada vez mais pró centro.

Não fazer nada é a minha perdição.

 

Um inútil. Mas é tão justo sê-lo!

Pudesse a gente desprezar os outros

E, ainda que co'os cotovelos rotos,

Ser herói, doido, amaldiçoado ou belo!

 

Tenho vontade de levar as mãos

À boca e morder nelas fundo e a mal.

Era uma ocupação original

E distraía os outros, os tais sãos.

 

O absurdo, como uma flor da tal Índia

Que não vim encontrar na Índia, nasce

No meu cérebro farto de cansar-se.

A minha vida mude-a Deus ou finde-a ...

 

Deixe-me estar aqui, nesta cadeira,

Até virem meter-me no caixão.

Nasci pra mandarim de condição,

Mas falta-me o sossego, o chá e a esteira.

 

Ah que bom que era ir daqui de caída

Pra cova por um alçapão de estouro!

A vida sabe-me a tabaco louro.

Nunca fiz mais do que fumar a vida.

 

E afinal o que quero é fé, é calma,

E não ter estas sensações confusas.

Deus que acabe com isto! Abra as eclusas —

E basta de comédias na minh'alma!

 

(No Canal de Suez, a bordo)

= Too Much Happiness Make Kids Paranoid =

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"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,

mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.

que posso evitar que ela vá a falência.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver,

apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história

É atravessar desertos fora de si,

mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.

É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.

É saber falar de si mesmo.

É ter coragem para ouvir um "não".

É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?

Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

 

(Fernando Pessoa)

 

 

É lindo! :wub:

O lema da minha vida... :closedeyes:

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  • 3 weeks later...

My God! Será que não conhecem este poema?

 

 

 

 

Cântico Negro (José Régio)

 

 

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces

Estendendo-me os braços, e seguros

De que seria bom que eu os ouvisse

Quando me dizem: "vem por aqui!"

Eu olho-os com olhos lassos,

(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)

E cruzo os braços,

E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:

Criar desumanidades!

Não acompanhar ninguém.

— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade

Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde

Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde

Por que me repetis: "vem por aqui!"?

 

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,

Redemoinhar aos ventos,

Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,

A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi

Só para desflorar florestas virgens,

E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!

O mais que faço não vale nada.

 

Como, pois, sereis vós

Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem

Para eu derrubar os meus obstáculos?...

Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,

E vós amais o que é fácil!

Eu amo o Longe e a Miragem,

Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

 

Ide! Tendes estradas,

Tendes jardins, tendes canteiros,

Tendes pátria, tendes tetos,

E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...

Eu tenho a minha Loucura !

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,

E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;

Mas eu, que nunca principio nem acabo,

Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

 

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,

Ninguém me peça definições!

Ninguém me diga: "vem por aqui"!

A minha vida é um vendaval que se soltou,

É uma onda que se alevantou,

É um átomo a mais que se animou...

Não sei por onde vou,

Não sei para onde vou

Sei que não vou por aí!

 

 

 

P.s: É perfeito...

Evam maia e ma ho

Salve a harmonia da mente e da natureza

Anar kaluva tiellyana

Que o sol brilhe no teu caminho

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  • 2 months later...

Sabiam que o José Regio era doente Bipolar, mas não foi isso que me troxe aqui...

 

foi para vós deixar este poema A Ministra vista por Bocage..... ah "ganda" Bocage

 

 

 

Baixa, de olhos ruins, amarelenta

Usando só de raiva e de impostura,

Triste de facha, o mesmo de figura,

Um mar de fel, malvada e quezilenta ;

 

Arzinho confrangido que atormenta,

Sempre infeliz e de má catadura,

Mui perto de perder a compostura,

É cruel, mentirosa e rabugenta.

 

Rosto fechado, o gesto de fuinha,

Voz de lamento e ar de coitadinha,

Com pinta de raposa assustadinha,

É só veneno, a ditadorazinha.

 

Se não sabes quem é, dou-te uma pista:

Prepotente, mui gélida e sinistra,

Amarga, matreira e intriguista,

Abusa do poder... e é MINISTRA.

astarline.gif

 

O amor é melhor do que a paz.

Eu sou pelo amor...

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Um autor desconhecido, mas não sei porquê... gostei desta quadra:

 

Eram grandes e sumarentas,

Tiraram-lhes a vida,

Estão velhas e engelhadas,

De uvas passaram a passas.

 

João Moreno.

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Sai-me da frente páh ...

 

 

Sabiam que o José Regio era doente Bipolar, mas não foi isso que me troxe aqui...

 

foi para vós deixar este poema A Ministra vista por Bocage..... ah "ganda" Bocage

 

 

 

Baixa, de olhos ruins, amarelenta

Usando só de raiva e de impostura,

Triste de facha, o mesmo de figura,

Um mar de fel, malvada e quezilenta ;

 

Arzinho confrangido que atormenta,

Sempre infeliz e de má catadura,

Mui perto de perder a compostura,

É cruel, mentirosa e rabugenta.

 

Rosto fechado, o gesto de fuinha,

Voz de lamento e ar de coitadinha,

Com pinta de raposa assustadinha,

É só veneno, a ditadorazinha.

 

Se não sabes quem é, dou-te uma pista:

Prepotente, mui gélida e sinistra,

Amarga, matreira e intriguista,

Abusa do poder... e é MINISTRA.

astarline.gif

 

O amor é melhor do que a paz.

Eu sou pelo amor...

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A puta

 

Quero conhecer a puta.

A puta da cidade. A única.

A fornecedora.

Na rua de Baixo

Onde é proibido passar.

Onde o ar é vidro ardendo

E labaredas torram a língua

De quem disser: Eu quero

A puta

Quero a puta quero a puta.

Ela arreganha dentes largos

De longe. Na mata do cabelo

Se abre toda, chupante

Boca de mina amanteigada

Quente. A puta quente.

É preciso crescer esta noite inteira sem parar

De crescer e querer

A puta que não sabe

O gosto do desejo do menino

O gosto menino

Que nem o menino

Sabe, e quer saber, querendo a puta.

 

 

 

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Bebam lá leite, vá!.... .

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muito bem Erripúter tou a ver que conheces o grande poeta brasileiro

 

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, e cá vai outra dele

 

 

O QUE SE PASSA NA CAMA

 

(O que se passa na cama

é segredo de quem ama.)

É segredo de quem ama

não conhecer pela rama

gozo que seja profundo,

elaborado na terra

e tão fora deste mundo

que o corpo, encontrando o corpo

e por ele navegando,

atinge a paz de outro horto,

noutro mundo: paz de morto,

nirvana, sono do pênis.

Ai, cama canção de cuna,

dorme, menina, nanana,

dorme onça suçuarana,

dorme cândida vagina,

dorme a última sirena

ou a penúltima...O pênis

dorme, puma, americana

fera exausta. Dorme, fulva

grinalda de tua vulva.

E silenciem os que amam,

entre lençol e cortina

ainda úmidos de sêmen,

estes segredos de cama.

astarline.gif

 

O amor é melhor do que a paz.

Eu sou pelo amor...

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  • 2 months later...

A poesia de Rui Barbosa (poeta brasileiro), apresentada a seguir,

poderia ter sido escrita hoje,

sem mudar uma palavra e em Portugal.

Pois NUNCA ESTEVE TÃO ACTUAL ...

 

 

SINTO VERGONHA DE MIM

 

 

Sinto vergonha de mim

por ter sido educador de parte deste povo,

por ter batalhado sempre pela justiça,

por compactuar com a honestidade,

por primar pela verdade

e por ver este povo já chamado varonil

enveredar pelo caminho da desonra.

 

Sinto vergonha de mim

por ter feito parte de uma era

que lutou pela democracia,

pela liberdade de ser

e ter que entregar aos meus filhos,

simples e abominavelmente,

a derrota das virtudes pelos vícios,

a ausência da sensatez

no julgamento da verdade,

a negligência com a família,

célula-Mater da sociedade,

a demasiada preocupação

com o 'eu' feliz a qualquer custo,

buscando a tal 'felicidade'

em caminhos eivados de desrespeito

para com o seu próximo.

 

Tenho vergonha de mim

pela passividade em ouvir,

sem despejar meu verbo,

a tantas desculpas ditadas

pelo orgulho e vaidade,

a tanta falta de humildade

para reconhecer um erro cometido,

a tantos 'floreios' para justificar

actos criminosos,

a tanta relutância

em esquecer a antiga posição

de sempre 'contestar',

voltar atrás

e mudar o futuro.

 

Tenho vergonha de mim

pois faço parte de um povo que não reconheço,

enveredando por caminhos

que não quero percorrer...

 

Tenho vergonha da minha impotência,

da minha falta de garra,

das minhas desilusões

e do meu cansaço.

Não tenho para onde ir

pois amo este meu chão,

vibro ao ouvir o meu Hino

e jamais usei a minha Bandeira

para enxugar o meu suor

ou enrolar o meu corpo

na pecaminosa manifestação de nacionalidade.

 

Ao lado da vergonha de mim,

tenho tanta pena de ti,

povo deste mundo!

 

'De tanto ver triunfar as nulidades,

de tanto ver prosperar a desonra,

de tanto ver crescer a injustiça,

de tanto ver agigantarem-se os poderes

nas mãos dos maus,

o homem chega a desanimar da virtude,

A rir-se da honra,

a ter vergonha de ser honesto'.

 

Rui Barbosa

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O amor é melhor do que a paz.

Eu sou pelo amor...

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  • 4 weeks later...

AINDA ASSIM, EU ME LEVANTO

 

 

 

Você pode me riscar da História

Com mentiras lançadas ao ar,

Pode me jogar contra o chão de terra,

Mas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar.

 

 

 

Minha presença o incomoda?

Por que meu brilha o intimida?

Porque eu caminho como quem possui

Riquezas dignas do grego Midas.

 

 

 

Como a lua e como o sol no céu,

Com a certeza da onda no mar,

Como a esperança emergindo na desgraça,

Assim eu vou me levantar.

 

 

 

Você não queria me ver quebrada?

Cabeça curvada e olhos para o chão?

Ombros caídos como as lágrimas,

Minh'alma enfraquecida pela solidão?

 

 

 

Meu orgulho o ofende?

Tenho certeza que sim

Porque eu rio como quem possui

Ouros escondidos em mim.

 

 

 

Pode me atirar palavras afiadas,

Dilacerar-me com seu olhar,

Você pode me matar em nome do ódio,

Mas ainda assim, como o ar, eu vou me levantar.

 

 

 

Minha sensualidade incomoda?

Será que você se pergunta

Porquê eu danço como se tivesse

Um diamante onde as coxas se juntam?

 

 

 

Da favela, da humilhação imposta pela cor

Eu me levanto

De um passado enraizado na dor

Eu me levanto

Sou um oceano negro, profundo na fé,

Crescendo e expandindo-se como a maré.

 

 

 

Deixando para trás noites de terror e atrocidade

Eu me levanto

Em direcção a um novo dia de intensa claridade

Eu me levanto

Trazendo comigo o dom de meus antepassados,

Eu carrego o sonho e a esperança do homem escravizado.

E assim, eu me levanto

Eu me levanto

Eu me levanto.

 

 

 

Maya Angelou :rolleyes:

Uma ave tem de voar, mesmo que o céu esteja cheio de abutres!!!...

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  • 4 weeks later...

POEMA DA 'MENTE'

 

Há um primeiro-ministro que mente,

Mente de corpo e alma, completa/mente.

E mente de maneira tão pungente

Que a gente acha que ele, mente sincera/mente,

Mas que mente, sobretudo, impune/mente...

Indecente/mente.

E mente tão nacional/mente,

Que acha que mentindo história afora,

Nos vai enganar eterna/mente.

 

 

 

E eu acrescento que efectivamente está:

 

Musicalmente correcto, actualmente certo e infelizmente verdadeiro.

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O amor é melhor do que a paz.

Eu sou pelo amor...

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  • 2 weeks later...

Continuo à janela poluída

Em dias sem fim, colados, trancados

Interiores de fumo roxo, denso

À espera do dia de voltar de mares revoltos, marés vivas, castanhas de espuma.

Crianças sem medo.

A coragem é um espelho... devolve-te o que lhe deres.

Não largo o início

Contrastes mentais, difusos...

Agora, aqui, sou eu outra vez

Amanhã... quem sabe o que serei!

 

 

http://www.caisdetempo.blogspot.com/

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ORAÇÃO

 

Senhor

Super consciência cósmica

Consciência infinita

Nosso criador

Nós nos abrimos à vossa luz,

À vossa Paz e à lucidez que emana de Vós.

 

Senhor

Super consciência cósmica

Que um infinitésimo da vossa luz,

Da Vossa Paz

Do vosso amor,

Possa penetrar as nossas pequenas consciências,

Estabilizar o nosso campo e transformar os nossos dias.

 

Ensinai-nos a ser simples, exactos.

Ensinai-nos a unir-nos cada dia que passa de uma forma mais profunda com a tua realidade.

Abri o nosso coração ao teu amor e

ensinai-nos a cada dia que passa a ver melhor com os teus olhos.

Ensinai-nos a percorrer um passo de cada vez e

ajudai-nos a ver os obstáculos que realmente nos impedem de avançar.

 

Senhor

Super consciência cósmica

Nós vos pedimos que um infinitésimo da vossa luz

possa penetrar as nossas pequenas consciências e

que uma fagulha do vosso amor venha habitar-nos e não mais se retire.

 

Ensinai-nos a coragem, a ousadia, a serenidade, o bom senso, o equilíbrio

e a paixão por tudo o que ainda não foi feito e está no nosso potencial profundo.

 

A vós, sem defesas, sem disfarces, nós nos entregamos.

 

Ensinai-nos a assumir esta nudez.

Ensinai-nos a ser transparentes ao teu olhar

e a ter a coragem de ver o ponto que não queremos ver.

 

Dai-nos a força e a sabedoria de ver o ponto que nos impede de avançar.

 

Simplificai a nossa vida

Simplificai a nossa mente

Simplificai as nossas emoções

E ajudai-nos a encontrar o ponto de perfeito equilíbrio do qual podemos ser teu instrumento.

 

Senhora

Mãe divina

Que a vossa luz possa descer a estas células e transformá-las

Que a vossa luz possa descer a este pensamento e libertá-lo

Que a vossa luz possa descer nesta tristeza,

neste desencontro,

nos nossos sentimentos confusos

e revelar-me o mistério do amor que não tem nome nem objecto.

Ensinai-nos a nos entregar a ti a cada dia de uma forma mais perfeita,

mais exacta,

mais profunda.

"Advirto-te, quem quer que sejas.

Oh tu! que desejas sondar os Mistérios da Natureza,

que se não encontras dentro de ti mesmo aquilo que procuras,

tampouco o poderás encontrar fora.

Se tu ignoras as excelências da tua própria casa,

como pretendes encontrar outras excelências?

Em ti se encontra oculto o tesouro dos tesouros.

Oh, Homem! conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses."

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  • 7 months later...

Quando sentes que sentes dor?

Quando choras? Quando cais?

Nada disso é dor, apenas algo sentido.

Dor é sentir e pensar, sem se poder fazer isso.

 

Olhar para o mar negro

Ver o sol a pôr-se

Sentir o vento gelado na tua cara

Falar para alguém que não ouve.

 

Ninguém sabe o que é dor

A não ser aquelas pessoas

Aqueles ninguém

Que olham, sentem, vêem e falam.

 

Quando sentes que sentes dor?

Talvez nunca, talvez sempre

Talvez morras sem a conhecer

Talvez vivas com ela presente.

 

Lindo Raquel ;) Este toca-me.

 

Não deixo obras que gosto mas sim as que crio.

 

Espero que gostem.

 

http://phantomwordsblog.blogspot.com/

--d(-_-)b--

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Quem me dera ser chinelo

para que tu me calçasses

Para ir onde tu isses

Para estar onde tu estasses

 

 

:crazy:

 

Esta partiu-me todooooo :gap::smokinggun:

 

"Os poetas nunca mentem: falam é sempre de outra coisa"

 

 

 

Fernando Grade

 

Simplesmente genial! :flower:

 

Autopsicografia

 

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

 

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas* que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

 

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.

 

De Fernando Pessoa

 

 

 

* dores

 

LIndissimo!! Adorei ler este :diablo:

 

Subi a uma árvore para te ver, como não te vi, desci.

 

 

 

 

 

 

 

:rolleyes:

 

:closedeyes: levast binoculos?

--d(-_-)b--

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  • 1 month later...

Poema erótico

 

de Drummond de Andrade

 

'Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem.

 

 

A noite era quente e calma e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste.

 

Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor!

 

Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos.

 

Até nos mais íntimos lugares.

 

Eu adormeci.

 

Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão.

 

Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite.

 

Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te esperar.

 

Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força.

 

Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos.

 

Só descansarei quando vir sair o sangue quente do teu corpo.

 

Só assim, livrar-me-ei de ti, mosquito Filho da Puta! '

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O amor é melhor do que a paz.

Eu sou pelo amor...

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  • 3 weeks later...

Acid dreams & Spanish Queens

L'America (another?, lone?, voice)

Asthma child, the fumidor

Lamerica

Duchess, rabbit, the woods by the road

Lamerica

Pearl Harbor-Shot of the road

Lamerica

Conceived in a beach Town

Lamerica

Relevance of beach or Lakes

Lamerica

Sinks, snakes, caves w/water

Florida

Homo/-sex/uality

Lamerica

Religion & the Family

Lamerica

Plane crash in the Eastern Woods

Virginia

Bailing-out over rice-fields

Lamerica

Guerrilla band inside the town

Lamerica

Bitter tree of consciousness

Lamerica

A fast car in the night-the road

Lamerica

Progress of The Good Disease

Lamerica

 

Morrison

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Fui ao mar

apanhar mexilhões

veio uma onda

molhou-me os tornozelos.

 

Estava maré baixa.

Um dia ia eu na floresta, e apareces tu! Resolvi dar-te uma prenda...

E que rica prenda!

 

In the 60's people took acid to make the world weird.

Now the world is weird and people take prozac to make it normal.

 

Vamos todos tomar o ácido às 23:59 e não se esqueçam dos toalhetes húmidos para limpar as mãos depois dos camarões.

 

Ignorando activamente: 9 users!

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  • 6 months later...

Quando a saudade aperta

dou por mim nostalgico

a relembrar o que passámos

e que partilhamos algo magico

 

dá-me um nó no coração

quando me lembro da magia

liberta pelo amor,

tristezas e alegrias

 

que juntos partilhámos

em momentos negativos

ou momentos de euforia

que correm o dia-a-dia

 

e nao me deixam duvidar

o que a teu lado sentia

o que sinto constantemente

e meus futuros sentimentos

 

quando a saudade aperta

fecho os olhos por momentos

esqueço o resto e desenho

a tua imagem na minha mente

 

olho para traz, pois

tenho no coração guardado

todos os momentos passados

e vividos a teu lado

 

paro o mundo por um bocado

e sinto uma melancolia

trazida pela saudade

fico com a alma vazia

 

e pergunto a mim proprio

porque é que me fazes tanta falta

é o que acontece

quando a saudade aperta...

 

Escrevi isto em 2007, não tenho muita paciencia para respeitar as metricas, mas pus um bom bocado de mim nesses versos

=)

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  • 2 months later...

Surge Janeiro frio e pardacento,

Descem da serra os lobos ao povoado;

Assentam-se os fantoches em São Bento

E o Decreto da fome é publicado.

 

Edita-se a novela do Orçamento;

Cresce a miséria ao povo amordaçado;

Mas os biltres do novo parlamento

Usufruem seis contos de ordenado.

 

E enquanto à fome o povo se estiola,

Certo santo pupilo de Loyola,

Mistura de judeu e de vilão,

 

Também faz o pequeno "sacrifício"

De trinta contos - só! - por seu ofício

Receber, a bem dele... e da nação.

 

 

JOSÉ RÉGIO Soneto escrito em 1969.

 

 

Tão actual em 1969, como hoje...

E depois ainda dizem que a tradição já não é o que era!!

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O amor é melhor do que a paz.

Eu sou pelo amor...

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  • 3 months later...

Poema de agradecimento à corja

 

 

Obrigado, excelências.

Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade

de vivermos felizes e em paz.

Obrigado

pelo exemplo que se esforçam em nos dar

de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem

dignidade.

Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.

Por não nos darem explicações.

Obrigado por se orgulharem de nos tirar

as coisas por que lutámos e às quais temos direito.

Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.

Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.

Obrigado pela vossa mediocridade.

E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.

Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.

Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.

Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias

um dia menos interessante que o anterior.

Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.

Obrigado por nos darem em troca quase nada.

Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.

Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade

e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.

E pelo vosso vergonhoso descaramento.

Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer,

o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.

Obrigado por serem o que são.

Obrigado por serem como são.

Para que não sejamos também assim.

E para que possamos reconhecer facilmente

quem temos de rejeitar.

 

Joaquim Pessoa

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O amor é melhor do que a paz.

Eu sou pelo amor...

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  • 2 weeks later...

Pensar em Deus é Desobedecer a Deus

 

Pensar em Deus é desobedecer a Deus,

Porque Deus quis que o não conhecêssemos,

Por isso se nos não mostrou...

Sejamos simples e calmos,

Como os regatos e as árvores,

E Deus amar-nos-á fazendo de nós

Belos como as árvores e os regatos,

E dar-nos-á verdor na sua primavera,

E um rio aonde ir ter quando acabemos! ...

 

Alberto Caeiro :flower:

All, everything that I understand, I understand only because I love.

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Os Meus Pensamentos são Todos Sensações

 

Sou um guardador de rebanhos.

O rebanho é os meus pensamentos

E os meus pensamentos são todos sensações.

Penso com os olhos e com os ouvidos

E com as mãos e os pés

E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la

E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor

Me sinto triste de gozá-lo tanto.

E me deito ao comprido na erva,

E fecho os olhos quentes,

Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,

Sei a verdade e sou feliz.

 

Alberto Caeiro.

 

É sem dúvida o mestre, até porque a vida não é mais que isto :)

All, everything that I understand, I understand only because I love.

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Tens para mim o que me serve

Tens que me sirva o que te serve

Serve-me então na mesa o teu manjar

Dá-me garfo e faca

Dá-me mesa e onde sentar

 

Vê-me agora ingerir…vê-me ingerir no agora

O doce amargo sabor.

Da madrugada.

 

 

 

por Nuno Piteira (não gosto nada deste gajo)

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Este é que é o espaço da poesia, então aqui faço re-post

 

 

 

TROVA DO TEMPO QUE PASSA

 

 

 

Pergunto, ao tempo que passa,

se há quem governe o País!...

E o tempo mostra a desgraça,

que o Governo desdiz!...

Pergunto aos “boys” que levam

a massa nas algibeiras

e os “boys” ao roubo se entregam

- levam tudo, sem maneiras!...

Roubam sonhos, geram mágoas!...

Ai pobre do meu País!

Mergulhado em turvas águas,

seu fim está por um triz!...

Quem o pobre Povo esfola,

pede meças a quem diz

que um País, que pede esmola,

continua a ser feliz!...

Pergunto à fome, que grassa,

por quem lhe roubou o pão.

- Logo os golpes de trapaça

dá como sendo a razão!...

Vi florir grandes fortunas,

com os montantes roubados,

sem terem, como oportunas,

punições para os culpados!...

E o tempo não muda nada!

Ninguém faz nada de novo!

Vejo a pátria acabrunhada,

com a cruz, que leva o Povo!

Vejo a Pátria na voragem

dos que andam a roubar,

cobertos p’la sacanagem

dos que dizem governar!..

Vejo gente a partir,

Em busca doutras paragens,

que lhe possam garantir

a vida, com outras margens!...

Há quem te queira enganada,

ó Pátria do desalento

e fale por ti, coitada!

Entregue estás a um jumento!...

E o tempo, em derrocada,

num ruído cacofónico,

vai aumentando a parada

de delírio histriónico!...

Ninguém faz nada de novo

e o dinheiro vai fugindo!...

Nas mãos vazias do Povo,

fica a miséria florindo!...

E a noite torna-se densa,

de fantasmas e desdita!...

Peço notícias ao tempo

e ele só nos mortifica!...

Há sempre uma alcateia,

que agudiza a desgraça!

Há sempre alguém que semeia

injustiça e trapaça!...

Neste tempo de trapaça,

com personagens tão vis,

só mesmo com arruaça,

p’ra lhes partir o nariz!...

Mesmo na noite mais triste,

em tempo de podridão,

Sócrates ainda resiste,

com a lábia de aldrabão!...

 

 

 

Manuel Triste, em "O canto e os sarnas"

24/01/2011

astarline.gif

 

O amor é melhor do que a paz.

Eu sou pelo amor...

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