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Alexander Shulgin, Phd


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Dr. Ecstasy

 

Será que as drogas nos podem ajudar a encontrar Deus? Alexander Shulgin pensa que sim e é muito possível que ele tenha mais autoridade no assunto do que qualquer outra pessoa, viva ou morta. Uma conversa com o homem que deu ao mundo o ecstasy

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CORBIS

 

EXPERIÊNCIAS. Shulgin continua a investigar num laboratório minúsculo e sombrio

 

Shulgin, Sasha para os amigos, recebe-nos no seu jardim, onde estão plantados dezenas de cactos alucinogénicos. Usa uma camisa azul estampada de manga curta e sandálias abertas. «Desculpe se pareço um tanto cansado, acabamos de chegar do Burning Man», diz ele. Alguns poderiam pensar que esta afirmação seria uma chave para conhecer a personalidade do dr. Shulgin. Burning Man é um festival de artes alternativo que se realiza anualmente no Deserto Black Rock, do Nevada, e que se anuncia como «uma experiência em comunidade, auto-expressão radical e auto-suficiência radical».

 

«Um hippie velhote», sentimo-nos tentados a dizer. Mas o amor livre não é o que motiva Shulgin, 81 anos, quase 1,90 metros de altura e um mordaz sentido de humor. A química é a sua paixão desde os 16 anos, quando ganhou uma bolsa de estudo para Harvard. É um investigador consumado e pioneiro com um enfoque singular: as drogas psicadélicas. Sintetizou cerca de 200 compostos que alteram a mente, experimentou todos em si próprio e calcula que fez mais de 4000 «viagens» induzidas por drogas.

 

Acredita firmemente que os seus compostos têm capacidade para tratar a esquizofrenia ou a amnésia, bem como problemas psicológicos como a paranóia e a depressão. Mas as suas convicções entraram em conflito com o governo federal, que por duas vezes lhe invadiu o laboratório, o privou da autorização para investigar e colocou todos os compostos que ele criou na lista das drogas proibidas, de que um dos critérios é não terem «qualquer benefício médico conhecido».

 

 

JOSÉ VENTURA

 

O ECSTASY chegou às discotecas depois de ser usado em gabinetes de psicoterapeutas devido ao seu efeito desinibidor

 

É fácil ver por que razão as autoridades olham o seu trabalho com tanto cepticismo. Ele aparenta divertir-se em demasia para poder ser levado a sério. Para começar, insiste em experimentar pessoalmente cada uma das drogas que produz. «É a única atitude responsável», diz. «Um dos objectivos da minha investigação é desenvolver ferramentas para estudar a mente. Não se pode fazer isso em animais. Ou será que eles têm mente?»

 

«Encontrei a minha via de aprendizagem» aos 35 anos, reconhece, depois de ter tomado pela primeira vez mescalina, o ingrediente activo da planta peiote, que os nativos americanos utilizaram nas cerimónias religiosas durante milhares de anos. Recorda a experiência com um sentimento de êxtase e alegria.

 

«Vi um mundo que se apresentava com aspectos diversos. Tinha cores maravilhosas, o que para mim foi uma sensação sem precedentes porque nunca tinha reparado especialmente no mundo das cores... Nunca mais esqueci. Esse mundo também era maravilhoso nos seus detalhes. Pude ver a estrutura íntima de uma abelha a pôr qualquer coisa num saco na sua pata posterior para levar para a colmeia; contudo, eu estava completamente em paz com a proximidade entre a abelha e a minha cara. O mundo era uma maravilha de lucidez interpretativa. Via as pessoas como caricaturas que revelavam tanto as suas dores como as suas esperanças e que pareciam não se importar com o facto de eu as ver dessa maneira. Mais do que qualquer outra coisa, o mundo espantava-me porque o via tal como quando era criança...»

 

 

CORBIS

 

LABORATÓRIO. Shulgin construiu-o num bosque por detrás da sua casa

 

Shulgin considera que essas experiências o aproximaram de Deus, mas o que verdadeiramente o fascinou foi o facto dessa «evocação assombrosa ter sido provocada por uma fracção de um grama de um produto sólido branco», «Mas de forma alguma se podia afirmar que estas recordações estavam contidas dentro deste produto sólido branco. Tudo o que eu reconhecia vinha das profundezas da minha memória e do meu espírito. Compreendi que todo o nosso universo está contido na mente e no espírito. Podemos optar por não descobrir o acesso a ele, podemos até negar a sua existência, mas está de facto dentro de nós e há produtos químicos que nos podem ajudar a catalizar a sua disponibilidade».

 

A partir desse momento decidiu dedicar-se à procura desses produtos químicos. A princípio tinha uma grande liberdade para o fazer. A trabalhar como investigador para a Dow Chemicals, inventou o primeiro pesticida biodegradável, o Zectran. A Dow pagou-lhe apenas um dólar pela sua patente, mas deu-lhe um laboratório e liberdade para prosseguir a investigação que ele desejasse.

 

Desenvolveu rapidamente um protocolo para análise dos seus compostos, mantendo um registo meticuloso. Ao fazê-lo, compreendeu de imediato que teria de ser brutalmente honesto, mesmo quando as drogas revelavam aspectos menos agradáveis da sua natureza. Por exemplo, com o composto a que chamou Aleph-1 experimentou «a mais deliciosa mistura de presunção, paranóia e egoísmo». Imaginou-se uma «supernova intelectual».

 

Com o tempo, acabou por recrutar um grupo de amigos para testarem os seus compostos e assim poder registar reacções múltiplas. As drogas que criou deram azo a uma série de reacções. Uma fê-lo extremamente belicoso, outra revelou-se afrodisíaca, outra ainda alterou tão profundamente o seu sentido do tempo que lhe provocou um ataque de pânico. Uma alterou a sua percepção de som - considera que este composto, o DIPT, «acede a algum lugar no cérebro funcional que determina a percepção da audição e pode mudar a interpretação do que estamos a ouvir. Se podemos fazer isso, não é insensato assumir que podemos descobrir um produto químico que acederá à parte do cérebro onde o esquizofrénico ouve a voz de Deus dizendo-lhe para fazer qualquer coisa terrível e alterar aquilo que ele está a ouvir».

 

Mas foi a sua defesa de uma droga não inventada por ele que o tornou mais conhecido, pelo menos na cultura popular. Em 1976, um estudante chamou a sua atenção para um composto a que chamou MDMA, patenteado pela primeira vez pela Merck em 1914, e que foi rejeitado, por ser considerado inútil, e esquecido. Shulgin experimentou-o em si e em amigos e acabou por acreditar que tinha um grande potencial como desinibidor, especialmente para ajudar as pessoas a aceder aos «pensamentos mais íntimos» durante a psicoterapia. Publicou um artigo de investigação com um colega e convenceu Leo Zeff, um amigo psicoterapeuta, a experimentá-lo. O seu uso em breve se generalizou entre os terapeutas de todo o mundo. Também fez caminho até às discotecas, onde se tornou conhecido como ecstasy.

 

Muito antes disto, a Dow tinha começado a sentir-se incomodada com o que ele publicava em revistas científicas, numa altura em que os adolescentes americanos começavam a fazer das drogas psicadélicas uma parte da contracultura. Assim, abandonou a Dow e construiu um pequeno laboratório num bosque por detrás da sua casa, nas montanhas perto de São Francisco. O laboratório - um lugar minúsculo e sombrio que, no dia em que lá fomos, começava a recompor-se de um ataque por um bando de esquilos -ainda lá está. E funciona.

 

Shulgin continuou a ganhar a vida, agora como testemunha especializada em casos de tribunal envolvendo drogas psicotrópicas, por vezes testemunhando a favor da acusação pública, embora mais frequentemente a favor da defesa. Também fez palestras para agentes da Drug Enforcement Agency (DEA, o departamento norte-americano da luta contra a droga) sobre como reconhecer essas drogas e os laboratórios onde estavam a ser sintetizadas.

 

A experiência ilustra a forma como conseguiu manter um pé no «establishment», mesmo quando o seu trabalho o impelia a rebelar-se contra ele. Um dos seus melhores amigos durante muitos anos foi Bob Sager, chefe do Western Laboratory da DEA, que se casou na quinta de Shulgin. Shulgin é também um experiente tocador de viola, o que lhe deu entrada no Bohemian Club, que tem orquestra própria e onde entre os sócios maioritariamente conservadores se encontram alguns dos homens mais ricos e poderosos da costa Oeste.

 

Apesar destas protecções, Shulgin percebeu em que direcção sopravam os ventos políticos: a Administração Reagan intensificava a guerra às drogas, as revistas científicas recusavam os seus artigos e ele começou a ler sobre cientistas do passado que tinham visto o seu trabalho ser suprimido e destruído. Receando que o mesmo lhe pudesse acontecer, decidiu publicar os frutos do seu labor. O resultado foi um livro chamado PiHKAL, A Chemical Love Story, que significa «Phenethylamines I Have Known And Loved» (Fenetilaminas que eu conheci e amei). O livro é uma mistura bizarra: uma autobiografia em duas partes, da sua mulher, Ann, e dele próprio, seguida de uma colecção de receitas explicando meticulosamente como sintetizar 179 fenetilaminas, que doses consumir e que tipo de reacção esperar. Publicou o livro às suas custas em 1991 e vendeu mais de 40 mil exemplares - um número elevado para um livro publicado pelo autor.

 

As autoridades não gostaram. Em 1993, a DEA saqueou-lhe a quinta e o laboratório, apreendeu os materiais, multou-o em 25 mil dólares e tirou-lhe a licença de investigador.

 

Contudo, em anos recentes, numerosos estudos sérios em todo o mundo começaram a utilizar alguns dos seus compostos para tratar doenças como o stresse pós-traumático, a paranóia em doentes terminais de cancro e enxaquecas. Lester Grinspoon, professor de Psiquiatria na Universidade de Harvard, diz: «se as fenetilaminas se tornarem tão importantes no futuro como eu acredito, este livro será visto como um tesouro de importância histórica».

 

Em qualquer caso, Shulgin não se deixa desanimar: publicou em 1997 um segundo livro, TiKHAL (Triptamines I Have Known And Loved) (Triptaminas que eu conheci e amei), e continua a sintetizar novas drogas com base num argumento simples - que as novas invenções (ainda) não são ilegais. Mas a experiência transformou-o num libertário fervoroso.

 

Argumenta que os regulamentos da DEA são inconstitucionais e anti-intelectuais - um dos regulamentos propostos criminaliza preventivamente todas as potenciais drogas análogas por ele sintetizadas, cerca de meio milhão de compostos ainda não existentes e sem nome.

 

É positivamente injurioso ao falar da administração Bush. Considera que a legislação sobre medicamentos é racista e destinada acima de tudo a defender os interesses dos grandes laboratórios. «Quem é o dono do governo?», pergunta ele. «Não é preciso uma lucidez psicadélica para responder a isso».

 

 

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Apesar de o texto estar um pouco mal redigido é o primeiro em português que foca sobre o tema e depois já que paguei para ter acesso a ele convém partilhar para o saber não ficar do lado do capitalismo!

 

Abraços

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É um bom texto, e um excelente tema. :rolleyes:

 

Sem querer pôr em questão o benefíco do contributo das suas pesquisas e descobertas, bem como as dificuldades que passou devido a uma repressão estúpida e injusta, tenho que discordar com o sua conclusão quanto ao encontro de deus através de experiências psicadélicas. A não ser que consideres a tua essencia interior deus...

 

será que por ter passado por experiencias tao sublimes e tranquilas como descreve, pensava que estava no céu? ou será que é uma resposta de uma profunda necessidade de encontrar algo superior, algum deus, que é visivel e contactável apenas sob o efeito de determinada substância quimica conseguido num laboratório (ou mesmo natural se pensarmos no xamãs). será que quando se sentia tão bem, e via tantas cores e situações como diz, tenha encontrado tal paz interior, que até entao só imaginava possivel através de alguma intervenção divina?

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  • 5 months later...

muito bom mesmo...mas isso de chegar a deus é q n acredito...mas quem sabe se o homem nao vira a a ter razao...tb ninguem acreditava no nosso amigo leonardo..e olha agora se nao fosse ele..nao estavamos tao avancados.... se tivessemos acreditado nele... logo desde o principio.... estavamos bem mais avancados! um bem haja a todos fiquem bem:P

 

 

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Bem...realmente a entrevista não está mesmo boa, existe uma confusão por parte do entrevistador ou até mesmo do tradutor. Já tive oportunidade de ler os livros dele ele mostra uma postura agnóstica, isto é, afirma não ter conhecimento da existência ou não de deus. Utiliza o termo "deus" para tentar transmitir a magnitude da experiência..

 

Apesar de mostrar ter uma mente aberta à "espiritualidade humana" (coisa que às vezes eu não tenho) ele mostra-se muito céptico a todo tipo de crenças, apesar de respeitar todo o homem crente! ;)

 

Encontrei esta entrevista em que ele e a mulher falam disso: http://www.maps.org/news-letters/v12n1/12103shu.html

 

Abraços!

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